Manual do Calouro editado pelo PDU do Direito da UFPR causa polêmica nacional

Hoje na Folha de S. Paulo

Manual de calouros dita ‘obrigação sexual’ de aluna

Texto foi feito por estudantes de direito da Universidade Federal do Paraná

Material diz que mulher ‘tem a obrigação de dar’ e que não pode ser parcelado; peça foi considerada machista

JEAN-PHILIP STRUCK
DE CURITIBA

Um “manual de sobrevivência” que afirma que garotas têm a obrigação de “dar” causou indignação ao ser distribuído por um grupo de alunos de direito da UFPR (Universidade Federal do Paraná) para calouros do curso.

O livreto “Como cagar na cabeça de humanos”, cujo título faz referência aos pombos que vivem no teto da sede da faculdade de direito, tem oito páginas.

Nele, entre dicas sobre os melhores lugares para beber na região, há um tópico que promete mostrar ao calouro como “se dar bem na vida amorosa utilizando a legislação brasileira”.

Segundo o manual, se uma garota prometer “mundos e fundos (principalmente fundos)” e der apenas um beijo, o calouro deve citar o artigo 233 do Código Civil para conseguir fazer sexo.

“Obrigação de dar: ‘a obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados'”, segundo o artigo.

Afirma ainda que, se uma garota disser “vamos com calma”, o aluno deve dizer “não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra”, segundo um trecho do artigo 252. E conclui: “Ela vai ter que dar tudo de uma vez”.

CENTRO ACADÊMICO

O material foi produzido pelo PDU (Partido Democrático Universitário), grupo que até 2011 comandava o centro acadêmico local, e começou a ser distribuído neste mês.

Ele acabou despertando a ira de grupos feministas e de esquerda da UFPR, que o acusaram de ser “machista” e de incitar a prática de estupro. O curso tem 1.100 alunos.

Uma nota de repúdio foi publicada anteontem na internet pelo PAR (Partido Acadêmico Renovador), que comanda atualmente o centro acadêmico, e outros quatro grupos da universidade.

Para a aluna Maine Tokarski, 20, o manual dá a entender que as mulheres são um objeto que pode ser “usado”. “Ninguém aceita uma piada racista, então por que aceitar uma contra as mulheres?”

Os alunos que se sentiram ofendidos iriam decidir ontem à noite se fariam uma queixa contra os autores à direção da faculdade.

A reportagem não conseguiu localizar os diretores da faculdade para comentar o caso. Os autores do manual foram procurados, mas não responderam ontem aos recados deixados pela Folha.

“Homem com vinte e poucos anos não sabe, como dizia Nelson Rodrigues, dar bom dia a uma mulher. Mas não vi coisa grave no manual”

XICO SÁ
colunista da Folha, autor de “Modos de Macho & Modinhas de Fêmea”

“Foi uma brincadeira de extremo mau gosto, machista e dá a entender que a mulher está à disposição como coisa ‘estuprável'”

PRISCILLA BRITO
assessora técnica do CFêmea, centro feminista de estudos e assessoria

“É uma tiração de sarro feita por garoto. Entendo que a mulher possa se sentir ofendida, mas prefiro crer que um universitário tem inteligência para não levar isso tão a sério”

GRACE GIANNOUKAS
atriz e comediante

“Foram indelicados, cafajestes e broxantes. Quem pensa assim nunca terá mulher gostosa. Respeitar a vontade dela é fundamental”

OSCAR MARONI
empresário da noite, dono da boate Bahamas, lacrada em 2007 em SP

2 comentários sobre “Manual do Calouro editado pelo PDU do Direito da UFPR causa polêmica nacional

  1. É fundamental que se retire o protagonismo do PAR, pois não foi este grupo sozinho que redigiu a Nota de repúdio mas que se valorize o Grupo de Gênero da UFPR e todas as outras enidades que assinaram a nota de repúdio, quais sejam:
    Assembleia Nacional de Estudantes Livre – ANEL
    Associação Nacional dos Pós-Graduandos – ANPG
    Centro Acadêmico de Ciências do Estado – Faculdade de Direito (UFMG)
    Centro Acadêmico de Design – CADI (UFPR)
    Centro Acadêmico de Direito – CADir (UnB)
    Centro Acadêmico de História – CAHIS (UFPR)
    Centro Acadêmico de Jornalismo – CAJUP (Universidade Positivo)
    Centro Acadêmico de Jornalismo – CAJ (UFRB)
    Centro Acadêmico de Psicologia – CAP (UFPR)
    Centro Acadêmico João Alves Mangabeira – CAJAM (UESC)
    Centro Acadêmico XI de Fevereiro – CAXIF (UFSC)
    Coletivo Aqüenda! de Diversidade Sexual
    Coletivo Barricadas Abrem Caminhos
    Centro de Estudos Jurídicos da Pós-Graduação em Direito da UFPR – CEJUR
    Coletivo “Dente de Leão”
    Coletivo “Direito em Movimento” (UFRJ)
    Coletivo de Mulheres Estudantes da Universidade de Caxias do Sul – CME (UCS)
    Coletivo Juntas!
    Coletivo Levante
    Coletivo Maio (UFPR)
    Coletivo Quebrando Muros (UFPR)
    Diretório Acadêmico Clóvis Beviláqua – Direito – FURB (Blumenau)
    Diretório Acadêmico Fernando Santa Cruz de Direito da UNICAP – DAFESC – UNICAP
    Diretório Central de Estudantes – DCE (UFPR)
    Direito e Cidadania (UFPR)
    Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social – ENESSO
    Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil – FEAB
    Fórum de Juventude Negra do Paraná
    Grupo de Estudos em Direito Crítico, Marxismo e América Latina – GEDIC/RN
    Grupo de Pesquisa “Metamorfose Jurídica” da Universidade de Caxias do Sul
    Levante Popular da Juventude
    Marcha Mundial das Mulheres do RS – MMM-RS
    Mulheres da Federação Nacional de Estudantes de Direito – FENED
    Mulheres de Segunda
    Partido Acadêmico Renovador – PAR (UFPR)
    Programa de Educação Tutorial em Direito da UFPR – PET-Dir UFPR
    Programa de Educação Tutorial em Direito da UnB – PET-Dir UnB
    Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares no Ceará – RENAP-CE
    Rede Nacional de Assessoria Jurídica Universitária – RENAJU
    Serviço de Assessoria Jurídica Popular – SAJUP (UFPR)
    União da Juventude Socialista – UJS
    União Nacional dos Estudantes – UNE
    União Paranaense dos Estudantes – UPE

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  2. Isso é uma vergonha, é uma universidade federal,quem passa deveria aproveitar a oportunidade e estudar, usar a imaginação para algo bom, criativo e não degradante
    gostaria muito de saber a opinião do Reitor(a) desta entidade,a final, são mantidas com
    o dinheiro de nossos impostos.Estes com certeza serão “adevogados”.

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