Revista Time elege “o manifestante” como personalidade do ano. Para Beto Richa manifestantes na AL contra privatização via OS são “selvagens”

Uma tarde em Florença – Luis Fernando Verissimo

Publicada hoje em vários jornais do país

Nos cruzamos algumas vezes depois disso, mas a única vez que estive com o Sócrates foi na sua casa em Florença, quando ele era ídolo no Fiorentina. Tínhamos marcado um encontro com o Araújo Neto, correspondente do “Jornal do Brasil” em Roma, que estava vindo a Florença para entrevistá-lo. O Araújo nos carregou junto para a entrevista. Não foi difícil localizar a casa do Doutor nos arredores de Florença. O motorista do táxi sabia exatamente como chegar lá. A casa do estupendo Sócrates? Como não iria saber?

A casa era uma mansão toscana no meio de ciprestes e de um grande gramado. Quando chegamos, um dos filhos do jogador estava tendo seu cabelo cortado ao ar livre. Não deu para identificar, no que parecia ser o staff permanente da casa, quem era brasileiro e quem era italiano. O próprio barbeiro podia ser da casa ou recrutado na vizinhança para a honrosa missão. Sentamo-nos no quintal também, e conversamos a tarde inteira. Infelizmente, só o que sobrou da conversa foram as fotos. Não me lembro do que falamos. De Florença e de como a família estava se adaptando, provavelmente. E de futebol, certamente.

Era uma oportunidade para expor minha teoria sobre o passe de calcanhar, já que estava na presença de um notável especialista no assunto. Eu achava que o passe de calcanhar era um pouco como o palavrão no teatro. Quase sempre era desnecessário, não avançava a ação da peça — ou da jogada, no futebol —, mas nunca deixava de provocar uma reação na plateia. Por mais que se repetissem e se banalizassem, o passe de calcanhar e o palavrão jamais perderiam seu poder de surpreender o público.

Tenho certeza que não mencionei minha tese naquela agradável tarde florentina, primeiro porque sou do tipo que prefere ouvir as teses dos outros em vez das suas, segundo porque os passes de calcanhar do Sócrates, ao contrário dos palavrões no teatro, tinham a particularidade de nunca serem gratuitos, ou só para impressionar. Com Sócrates, taquinho não era brilhatura.

Mais importante do que surpreender o público era surpreender o adversário. E esta era uma das muitas maneiras em que Sócrates era um jogador — e uma pessoa — diferente. Não se esperasse dele o convencional.

O Araújo Neto já se foi, o Sócrates já se foi, restam as vagas lembranças de uma tarde sob os ciprestes, há muitos, muitos anos.

Um espetáculo o capítulo 3 do “A Privataria Tucana”, sobre as privatizações da era FHC

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Por Amaury Ribeiro Jr

Não é um riso aberto, caricatural, mas um sorriso quase íntimo, derramado para dentro. Observa-se um repuxar dos lábios,que expõem os dentes e esgarçam a pele das bochechas e do pescoço.É uma composição introspectiva, coadjuvada pelos olhos baixos, es-preitando o martelo em sua descida vigorosa conduzido por sua mãodireita. Quando se ouve o som da madeira contra a madeira, maisuma empresa pública foi vendida. A mão, a face e o sorriso perten-cem a José Serra. A Light do Rio pertencia à Eletrobrás. Na foto histórica, os gestos e as emoções estão congelados, mas o patrimôniopúblico moveu-se: passou a ser privado.

O leilão, no dia 21 de maio de 1996, dava continuidade ao programa federal de desestatização. Fernando Henrique Cardoso deflagrara o programa em 1995. Estreou com a venda da Excelsa,a companhia de eletricidade do Espírito Santo. E a mão de Serra também brandiu o martelo.

Nenhum político, mesmo os que privatizaram ou pretendemprivatizar, recebe de bom grado a fama de privatizador. Mas, nos anos 1990, o que hoje é estigma era então condição inexorável paraser aceito na modernidade. O discurso tucano, hoje omisso quantoao passado, possuía a arrogância dos donos da verdade. Mas estátudo registrado.

As lamúrias da revista Veja (edição de 03/05/1995) quanto à lentidão na venda das estatais receberam uma resposta rápida e reconfortante. O ministro José Serra, do Planejamento, anunciou “um ritmo mais veloz navenda das estatais” e encaixou as empresas de energia elétrica nalista das privatizáveis — prometeu e cumpriu, vibrando ele pró-prio o martelo na Excelsa, no mesmo ano, e na Light, no ano seguinte. E o presidente FHC expressou-se com tal ênfase que merece um parágrafo inteiro:

— É preciso dizer sempre e em todo lugar que este governo não retarda privatização, não é contra nenhuma privatização e vai vender tudo o que der para vender.

Em 1996, a Companhia Vale do Rio Doce estava na relação dasempresas a serem privatizadas, mas a descoberta de uma jazida deouro no Pará ameaçava melar a futura negociação. Ficaria mais difícil torrar a segunda maior mineradora do mundo, com 40 empresas e faturamento de US$ 2 bilhões/ano. Entrevistado, (edição de 07/02/1996) Serra mandou seu recado:

— A descoberta dessa mina não altera em nada o processo deprivatização. Só o preço que poderá ser maior — avisou o ministrodo Planejamento de FHC.

Como se ainda fosse necessário algum esclarecimento, o ex-presidente, em entrevista recente à Veja.com, que ganhou popularidade inesperada via You Tube, testemunhou: “O Serra foi um dos que mais lutaram em favor da privatização da Vale. Muita gente diz o Serra é isso e aquilo… Não! E (da privatização) da Light também. O Serra!”, acrescentou o ex-presidente para que não pairasse dúvida.

Pensando “vender tudo o que der para vender”, o governo doPSDB projetou tocar adiante, por exemplo, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Ou apequená-los, deixando-os dotamanho de bancos de “segunda linha”. Registrado nos anais doMinistério da Fazenda, o Memorando de Política Econômica,de 8 de março de 1999, no alvorecer do segundo mandato deFHC, descreve um plano de privatização parcial do BB e da CEF.Está no item 18 do documento e consiste na “venda de compo-nentes estratégicos” ou na transformação das duas instituiçõesem “bancos de segunda linha”.

Atualmente líder no seu setor e dona de um patrimônio de R$200 bilhões, a distribuidora de títulos e valores imobiliários dobanco — BB/DTVM — seria privatizada. No item 27, trata-se davenda de Furnas, incluída na entrega a particulares das empresas federais geradoras de energia. O governo ainda planejava vendertodas as suas ações sem direito a voto na Petrobrás.

Independentemente do juízo que cada um possa fazer sobre aefcácia ou inefcácia do Estado ao gerir os bens públicos, ninguémprecisa ser um inimigo do mercado para perceber que o modelo deprivatização que assolou o Brasil nos anos FHC não foi, para serleniente, o mais adequado aos interesses do país e do seu povo.Nem mesmo a Nossa Senhora Aparecida do fundamentalismo neoliberal, a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, teve oatrevimento de fazer o que foi feito na desestatização à brasileira.Nos anos 1980, Thatcher levou ao martelo as estatais inglesas, pul-verizando suas ações e multiplicando o número de acionistas. Contrapondo-se a essa “democratização”, o jeito tucano de torrarestatais envolveu “doação de empresas estatais, a preços baixos, apoucos grupos empresariais”. (O Brasil privatizado — Um balanço do desmonte do Estado, de Aloysio Biondi — Editora FundaçãoPerseu Abramo, 1999.)

Antes, porém, as estatais e seus servidores passaram a ser perse-guidos e linchados diariamente nas manchetes. O Estado passou a ser o Grande Satã, semeando-se uma ira santa contra sua presençana economia e um fogo constante dirigido aos seus serviços. Seus erros foram escancarados e seus acertos, subtraídos. Era precisopreparar o clima para vender as estatais, fossem quais fossem. Aspessoas precisavam entender que leiloar patrimônio público “seriaum benefício” para todos. O Estado reduziria suas dívidas interna eexterna e receberia um aporte de dólares que permitiria que se de-dicasse somente à saúde, à educação e a um ou outro setor. E todosse livrariam daqueles trastes que não se sabia, afnal por que aindacontinuavam existindo.

Na prática, a teoria acabou sendo outra. O torra-torra das estataisnão capitalizou o Estado, ao contrário, as dívidas interna e externaaumentaram, porque o governo engoliu o débito das estatais leiloa-das — para torná-las mais palatáveis aos compradores — e ainda asmultinacionais não trouxeram capital próprio para o Brasil. Em vezdisso, contraíram empréstimos no exterior e, assim, fzeram crescer adívida externa. (idem) Para agravar o quadro, os cofres nacionais financiaram a aquisição das estatais e aceitaram moedas podres, títulos públicos adquiridos por metade do valor de face, na negociação.

Alguns cases clássicos do processo ajudam a esclarecer o que sepassou. Na privatização da Companhia Siderúrgica Nacional(CSN) dos R$ 1,05 bilhão pagos pela maior siderúrgica da AméricaLatina e marco da industrialização nacional no pós-guerra, R$ 1bilhão era formado de moedas podres. Nos cofres públicos só ingressaram, de verdade, R$ 38 milhões… E, como se o incrível habi-tasse o inacreditável, as moedas podres foram leiloadas pelo BancoNacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES. Nesta matrioshka, (Conjunto de bonecas típicas russas, de madeira pintada, que se sobrepõem umas às outras,encaixando-se. (Cf. Aulete Digital.) na qual as aberrações brotam uma do interior da ou-tra, o BNDES ainda fnanciou a aquisição das moedas podres com prazo de 12 anos para pagá-las.

Na privatização da Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa), o governo deSão Paulo, sob o PSDB de Mário Covas, demitiu dez mil funcioná-rios e assumiu a responsabilidade pelos 50 mil aposentados da ferrovia! No Rio, o também tucano Marcelo Alencar realizou proezamaior: vendeu o Banerj para o Itaú por R$ 330 milhões, mas antes daprivatização demitiu 6,2 mil dos 12 mil funcionários do banco esta-dual. Como precisava pagar indenizações, aposentadorias e o planode pensões dos servidores, pegou um empréstimo de R$ 3,3 bilhões,ou seja, dez vezes superior ao que apurou no leilão. Na verdade, 20vezes superior, porque o Rio só recebeu R$ 165 milhões, isto porque aceitou moedas podres, com metade do valor de face.

A temporada de bondades com dinheiro público ultrapassouos preços baixos, os fnanciamentos, as prestações em 12 anos e as moedas podres. Nos anos que antecederam a transferência das es-tatais para o controle privado, suas tarifas sofreram uma sequên-cia de reajustes para que as empresas privatizadas não tivessem“de enfrentar o risco de protesto e indignação do consumidor”.No caso das tarifas telefônicas, aumentos de até 500% a partir de1995 e, no caso da energia elétrica, de 150%. Tais custos fcaramcom o Estado e o cidadão. Mas a cereja do bolo foram os emprés-timos do BNDES. Quem adquiria uma estatal imediatamente se habilitava a contratar fnanciamentos ofciais com juros abaixodos patamares do mercado. Comprada com moedas podres, a CSN foi contemplada com R$ 1,1 bilhão. E a Light, onde Serra bateuseu martelo, ganhou R$ 730 milhões.

O resultado de tudo isso é que, em dezembro de 1998, quando já haviam sido leiloadas grandes empresas como a Vale, Embraer,Usiminas, Copesul, CSN, Light, Acesita e as ferrovias, havia umdescompasso entre expectativa e realidade. Enquanto o governo FHC afrmava ter arrecadado R$ 85,2 bilhões no processo, o jor-nalista econômico Aloysio Biondi publicava no seu best‑seller O Brasil Privatizado que o país pagara para vender suas estatais. Estepagamento atingira R$ 87,6 bilhões, portanto R$ 2,4 bilhões amais do que recebera. Reunindo sete itens que conseguiu calcular— vendas a prazo com dinheiro já contabilizado, mas fora dos cofres públicos; dívidas absorvidas; juros de 15% sobre dívidasassumidas; investimento nas estatais antes do leilão; juros sobretais investimentos; uso de moedas podres e mais R$ 1,7 bilhão deixados nos cofres das estatais privatizadas — Biondi chegou aoseu valor. Mais cinco itens, entre eles custo de demissões e com-promissos com fundos de pensão, considerados incalculáveis, nãointegram a coluna das despesas.

Por tudo isso, não foi graciosamente que o Prêmio Nobel deEconomia (2001) Joseph Stiglitz cunhou um neologismo ácido aodefnir a onda privatista que avassalou as economias do Terceiro Mundo. Ex-economista chefe do Banco Mundial, Stiglitz interpretao que ocorreu como “briberization” e não “privatization”, sendo que “bribery” constitui-se crime e signifca “oferecer, dar, receber ou so-licitar qualquer bem ou valor para infuenciar as decisões de funcionário público ou outra pessoa em cargo de confança”. A raiz da palavra, bribe, é discutível, mas vincula-se à “coisa roubada” desdeo século 14, sendo percebida como “jargão de ladrões” e, com a acepção de favores adquiridos por meio de corrupção desde 1530. (Online Etimology Dictionary.) De forma mais clara, o que houve no Brasil não foi privatizaçãomas “propinização”. A versão local da práxis foi batizada como privataria pelo jornalista Elio Gaspari, ao casar, com felicidade, os vo-cábulos “privatização” e “pirataria”.

A luta travada pelo butim das estatais reuniu empreendedores,aventureiros e predadores. De um e do outro lado do balcão e, atémesmo, nos dois lados simultaneamente. A trajetória de algunsdeles está neste livro. Nele, estão as passadas largas dos grandespredadores. No parque jurássico dos usos e costumes republica-nos movem-se como o Tiranossauro Rex e, com o poder do di-nheiro e o dinheiro do poder, devoram as principais presas. E háos pequenos, como o Velocirraptor . Pequenos, porém não menos vorazes. Astuciosos, agindo em bandos, usam repetidamente o mesmométodo de ataque para engolir sua fatia dos despojos. Como as páginas que vêm pela frente se encarregarão de demonstrar.

“A Privataria Tucana” denuncia que Serra plantou insinuação de que Aécio Neves cheira cocaína

Charge de quando Aécio Neves foi pego por blitz no Rio de Janeiro e se recusou a utilizar o bafómetro

O livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., “A Privataria Tucana”, denuncia que José Serra queria tanto derrubar a candidatura de Aécio Neves para 2010 que, além de espionar o tucano mineiro, “mexeu os pauzinhos” para insinuar que Aécio cheira cocaína, por meio de um artigo chamado “Pó pará, governador” (publicado em 28.02.20109, leia o texto logo abaixo), do falecido Mauro Chaves, plantado pelos aspones de Serra no jornal serrista “O Estado de S. Paulo”, para desgastar o governador mineiro: “insinuação pesada, uma suposta ligação de Aécio ao ‘Pó’, ou seja, cocaína”, diz o livro.

O Estado de S. Paulo, Sábado, 28 de Fevereiro de 2009

Pó pará, governador?

Mauro Chaves

Em conversa com o presidente Lula no dia 6 de fevereiro, uma sexta-feira, o governador Aécio Neves expôs-lhe a estratégia que iria adotar com o PSDB, com vista a obter a indicação de sua candidatura a presidente da República. Essa estratégia consistia num ultimato para que a cúpula tucana definisse a realização de prévias eleitorais presidenciais impreterivelmente até o dia 30 de março – “nem um dia a mais”. Era muito estranho, primeiro, que um candidato a candidato comunicasse sua estratégia eleitoral ao adversário político antes de fazê-lo a seus correligionários. Mais estranho ainda era o fato de uma proposta de procedimento jamais adotada por um partido desde sua fundação, há 20 anos – o que exigiria, no mínimo, uma ampla discussão partidária interna -, fosse introduzida por meio de um ultimato, uma “exigência” a ser cumprida em um mês e meio, sob pena de… De quê, mesmo?

O que Aécio fará se o PSDB não adotar as prévias presidenciais até 30 de março? Não foi dito pelo governador mineiro (certamente para não assinar oficialmente um termo de chantagem política), mas foi barulhentamente insinuado: em caso da não-aprovação das prévias, Aécio voaria para ser presidenciável do PMDB. É claro que para o presidente Lula e sua ungida presidenciável, a neomeiga mãe do PAC, não haveria melhor oportunidade de cindir as forças oposicionistas, deixando cada uma em um dos dois maiores colégios eleitorais do País. E é claro que para o PMDB, com tantos milhões de votos no País, mas sem ter quem os receba, como candidato a presidente da República, a adoção de Aécio como correligionário/candidato poderia significar um upgrade fisiológico capaz de lhe propiciar um não programado salto na conquista do poder maior – já que os menores acabou de conquistar.

Pela pesquisa nacional do Instituto Datafolha, os presidenciáveis tucanos têm os seguintes índices: José Serra, 41% (disparado na frente), e Aécio Neves, 17% (atrás de Ciro Gomes, com 25%, e de Heloisa Helena, com 19%). Por que, então, o governador de Minas se julga capaz de reverter espetacularmente esses índices, fazendo sua candidatura presidencial subir feito um foguete e a de seu colega e correligionário paulista despencar feito um viaduto? Que informações essenciais haveria, para se transmitirem aos cerca de 1 milhão e pouco de militantes tucanos – supondo-se que estes fossem os eleitores das “exigidas” prévias, que ninguém tem ideia de como devam ser -, para que pudesse ocorrer uma formidável inversão de avaliação eleitoral, que desse vitória a Aécio sobre Serra (supondo que o governador mineiro pretenda, de fato, vencê-las)?

Vejamos o modus faciendi de preparação das prévias, sugerido (ou “exigido”?) pelo governador mineiro: ele e Serra sairiam pelo Brasil afora apresentando suas “propostas” de governo, suas soluções para a crise econômica, as críticas cabíveis ao governo federal e coisas do tipo. Seriam diferentes ou semelhantes tais propostas, soluções e críticas? Se semelhantes, apresentadas em conjunto nos mesmos palanques “prévios”, para obter o voto do eleitor “prévio” cada um dos concorrentes tucanos teria de tentar mostrar alguma vantagem diferencial. Talvez Aécio apostasse em sua condição de mais moço, com bastante cabelo e imagem de “boa pinta”, só restando a Serra falar de sua maior experiência política, administrativa e seu preparo geral, em termos de conhecimento, cultura e traquejo internacional. Mas se falassem a mesma coisa, harmonizados e só com vozes diferentes, os dois correriam o risco de em algum lugar ermo do interior ser confundidos com dupla sertaneja – quem sabe Zé Serra e Ah é, sô.

Agora, se os discursos forem diferentes, em palanques “prévios” diferentes, haverá uma disputa de acirramento imprevisível. E no Brasil não temos a prática norte-americana das primárias – que uniu Obama e Hillary depois de se terem escalpelado. Por mais que disfarcem e até simulem alianças, aqui os concorrentes, após as eleições, sempre se tornam cordiais inimigos figadais. E aí as semelhanças políticas estão na razão direta das diferenças pessoais. Mas não há dúvida de que sob o ponto de vista político-administrativo Serra e Aécio são semelhantes, porque comandam administrações competentes.

Ressalvem-se apenas as profundas diferenças de cobrança de opinião pública entre Minas e São Paulo. Quem já leu os jornais mineiros fica impressionado com a absoluta falta de crítica em relação a tudo o que se relacione, direta ou indiretamente, ao governo ou ao governador.

O caso do “mensalão tucano” só foi publicado pelos jornais de Minas depois que a imprensa do País inteiro já tinha dele tratado – e que o governador se pronunciou a respeito. É que em Minas imprensa e governo são irmãos xifópagos. Em São Paulo, ao contrário, não só Serra como todos os governos e governadores anteriores sempre foram cobrados com força, cabresto curto, especialmente pelos dois jornais mais importantes. Neste aspecto a democracia em São Paulo é mais direta que a mineira (assim como a de Montoro era mais direta que a de Tancredo). Fora isso, os governadores dos dois Estados são, com justiça, bem avaliados por suas respectivas populações.

O problema tucano, na sucessão presidencial, é que na política cabocla as ambições pessoais têm razões que a razão da fidelidade política desconhece. Agora, quando a isso se junta o sebastianismo – a volta do rei que nunca foi -, haja pressa em restaurar o trono de São João Del Rey… Só que Aécio devia refletir sobre o que disse seu grande conterrâneo João Guimarães Rosa: “Deus é paciência. O diabo é o contrário.”

E hoje talvez ele advertisse: Pó pará, governador?

Mauro Chaves é jornalista, advogado, escritor,administrador de empresas e pintor. E-mail: mauro.chaves@attglobal.net