Meu calouro na PUCPR, Roberson Bondaruk, é o novo comandante da PM/PR. Boa sorte!

Foto de Felipe Rosa/ Gazeta do Povo

Gazeta do Povo de sexta-feira

José Carlos Fernandes, é colunista e repórter especial da Gazeta do Povo.

O homem certo, na hora certa, no lugar certo

Sobre o coronel Roberson Bondaruk, agora alçado ao posto mais alto da Polícia Militar do Paraná, costuma-se dizer a frase destinada aos líderes: é o homem certo, na hora certa, no lugar certo. Arriscado? Não para aqueles que o conhecem.

Pode-se dizer, com certa folga, que quem tirou o PM Bondaruk do anonimato da farda foi a advogada e professora da PUCPR Jimena Aranda, especialista e ativista dos Direitos Humanos, em meados dos anos 2000. Ele não era apenas o aluno mais maduro e mais alto da faculdade de Direito [tem quase 2 metros de altura]. Era o acadêmico que entregou um livro primoroso como projeto de conclusão de curso – um livro sobre os meninos e meninas em situação de rua, escrito nas horas vagas, quando se sentava, à paisana, no meio-fio, para conversar com a infância “largada” que circula pela cidade.

Jimena fez o alarde. E o Paraná entrou em lua de mel com o PM que sempre sonhou e nunca pensou que podia existir. Não passava uma temporada sem que seu nome viesse à tona, desenhando-o aos poucos como o sujeito que conseguia juntar razão e sensibilidade num espaço que, havia muito, parecia ter se especializado na brutalidade e na ignorância.

Sabe-se, a boca pequena, que muitos políticos e companheiros de caserna estremeceram diante da novidade chamada Roberson Bondaruk. Até então ele era o policial generoso e inofensivo que agregava os bons a seu lado, falava-lhes do Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA, uma de suas especialidades; e abrira a Polícia Montada às terapias com deficientes. Essas e outras do “Bonda” funcionavam como uma boa estampa da PM, do que a corporação muito se beneficiou.

O estranhamento veio nos momentos em que o coronel – já na proa do programa Polícia Comunitária – se pôs a escrever e a falar dos seus livros, 9, fora artigos e o doutoramento. Impossível que essas entrevistas sobre produção intelectual não se tornassem também minimamente pessoais. Foi o que aconteceu. Soube-se, pela boca dele, que o menino pobre, de família ucraniana e nascido no Parolin, já pensara em desistir da caserna, por não ver conexão entre o que sonhara quando guri e o uniforme cheio de estrelas.

Sim – ele também tinha dúvidas em operações como as feitas na Vila das Torres. Era capaz de chorar ao falar do ex-PM empobrecido que encontrou no meio de uma desocupação. E de não esconder que é ministro de Eucaristia na paróquia onde mora com Nair e os quatro filhos. Mexeu com a onipotência policial, mexeu com fogo. Em contrapartida, renovou nos civis a esperança por uma polícia mais humana.

Mas seria pouco. O Bondaruk que despertou ciúmes por sua popularidade, ainda que discreta, é também homem de inteligência privilegiada. Foi seu bingo. Depois do livro O império das casas abandonadas – revelado por Jimena Aranda, veio A Prevenção do Crime Através do Desenho Urbano, em que mostrou as relações entre arquitetura, espaço e criminalidade. Experimente procurar na internet: parece não haver jornal importante no Brasil que não o tenha entrevistado sobre o trabalho – justamente no período em que mais padeceu o ostracismo imposto por seus superiores.

A virada, contudo, foi sua posse na Academia Militar do Guatupê, em 2008. O coronel não seria apenas um sujeito boa praça ensinando os policiais a serem cordiais. Ele assumiu com a promessa de transformar o centro de formação num laboratório de pesquisa sobre a violência, projetando o Paraná não mais nos dados do Mapa do Crime, mas na ciência capaz de conter o tráfico e a criminalidade.

Um acidente vascular cerebral (AVC) recente e uns bons meses de molho criaram o fio da suspeita. Falou-se na aposentadoria do coronel Bondaruk como favas contadas. Mesmo que tivesse pendurado a farda, escreveria muitos livros e, arrisca, sentaria nos meio-fios. Mas a farda, pelo que sabe, não lhe incomoda. Nele, é a veste do homem que pensa, sente e dialoga com a sociedade – tal como ele contou ter sonhado fazer um dia, ao decidir ser policial. Não será em vão.

6 comentários sobre “Meu calouro na PUCPR, Roberson Bondaruk, é o novo comandante da PM/PR. Boa sorte!

  1. “um livro sobre os meninos e meninas em situação de rua, escrito nas horas vagas, quando se sentava, à paisana, no meio-fio, para conversar com a infância “largada” que circula pela cidade”.
    …. duvido muito que ele se preocupa com isso, é apenas um livro para chamar a atenção, pois ele escreve de um jeito e pensa de outro. Por decisão dele é que eu, minha esposa e meus dois filhos menores iremos passar por dificuldades. Por se achar melhor do que a maioria das pessoas é que não vejo humildade em suas decisões e muito menos no que escreve.

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    • Pois então, prezado leitor… também postei algo parecido com o que o senhor postou. Jah que lembro bem daquele senhor alto com boa eloquência, mas que praticava “bullying” contra mim, acadêmico de Direito da PUC PR, campus Curitiba… em idos do ano 2000. Ainda hoje não sei o porquê, mas não tenho a menor admiração pela pessoa.. que até pode ser um bom profissional… enfim, fiquei super admirado… não procuro nada da vida desta pessoa… apenas estava lendo sobre as grandes ações da minha saudoso amiga prof. Jimena… que Deus a tenha.

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  2. Curioso ver o Dr. Roberson ser tão prestigiado. Sem querer tirar ironias, apenas me chamou a atenção porque ele foi uma das pessoas que lembro na PUC PR quando então eu estudava Direito que praticava “bullying” contra mim porque sou nordestino… e curioso fico ao saber que se dedicava ao estudo de Direitos Humanos!!! e ao menos se dava ao prazer (meu e dele) de me conhecer antes. Até então o tinha como cérebro pequenino… e infelizmente ainda o tenho… não obstante, ao que parece, os seus grandes feitos. Acima de tudo, desejo boa sorte.

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