O Paraná do governo Beto Richa ganha apenas do Ceará em investimento nas universidades estaduais

O Paraná do governo tucano de Beto Richa ganha apenas do Ceará em investimento per capita no ensino superior. Apenas R$ 17,9 mil por aluno no ano, enquanto que São Paulo gasta R$ 73,3 mil por aluno.

Governador Beto Richa, após um ano e quase três meses de governo, onde está a eficiência, o choque-de-gestão, o cumprimento das promessas de campanha?

Estamos de olho!

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Professor da USP critica a privatização da educação superior

Da Carta Capital de 14/03/2012

Como dois e dois

Por Otaviano Helene (professor do Instituto de Física da USP, ex-presidente da Associação de Docentes da USP e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais)

Os problemas do nosso sistema educacional são tão claros quanto as soluções. Não é preciso inventar

Nosso sistema educa­cional tem problemas quantitativos e qualita­tivos muito graves. Veja­mos, primeiro, os quan­titativos. Nos primeiros anos da educação infantil, sob responsabilidade principalmen­te dos municípios, atendemos apenas cer­ca de um quinto das crianças. Ao longo do ensino fundamental, nível educacional cuja oferta é dividida entre estados e mu­nicípios, um terço dos nossos jovens deixa a escola. Como resultado, a cada ano, cerca de 1 milhão de brasileiros iniciam a idade adulta sem ter sequer concluído o ensino fundamental, apesar de este ser um direito constitucional e um dever, e assim perma­necerão pelas próximas décadas. Como a evasão continua ao longo do ensino médio, esse nível educacional, majoritariamente sob a responsabilidade dos estados, é hoje completado apenas por metade da popu­lação. E ao final do ensino superior chega apenas um quinto dos cidadãos.

Segundo dados coletados e divulgados pela Unesco, a situação descrita nos coloca em uma das mais vergonhosas posições, mesmo quando a comparação se restringe aos países sul-americanos: estamos entre os piores colocados no que diz respeito à alfabetização juvenil (dos 15 aos 24 anos) e à taxa de inclusão no ensino superior.

Os problemas qualitativos acompa­nham os quantitativos. A enorme maioria dos nossos estudantes apresenta graves problemas em praticamente todas as áre­as do conhecimento, o que frequentemen­te provém da falta de efetivo entendimento de um texto simples. Evidentemente, isso exclui qualquer possibilidade de sua inter­pretação mais ampla. Tal situação impe­de o desenvolvimento e o aprendizado, fa­to claramente revelado pelo desempenho mostrado nas diversas provas e avaliações feitas ao longo do ensino básico.

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O que o golpista Estadão achava de Paulo Freire antes do golpe militar de 1964

“Assim, a Campanha Nacional de Alfabetização, através do sistema Paulo Freire, representaria enorme perigo para as instituições, pois pretende alfabetizar, em moldes marxistas, em 1964, quatro milhões de brasileiros que serão eleitores em 1965… Não se pode permitir, porém, que esse movimento venha a ser desvirtuado em benefício dos que pretendem implantar o comunismo em nosso País, visando a tomada do poder.”

(Jornal O Estado de S. Paulo, 30/11/1963, citado no livro URBAN, Teresa. 1968 Ditadura Abaixo, Curitiba: Arte e Letra, 2008)

Gazeta do Povo defende ensino público universitário pago. Era o que faltava!

A Gazeta do Povo de hoje, em matéria de Anna Simas, defendeu a cobrança de taxas nas universidades públicas, o que segundo a matéria “seria a solução”, como defende a OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico e foi implementada em países como os Estados Unidos, Inglaterra e Chile (berços do neoliberalismo). Nossa Constituição Social e Democrática de 1988 já tem mais de 20 anos e, ao invés de implementá-la, os saudosos do liberalismo do século XIX continuam combatendo uma sociedade menos desigual. Querem a barbárie e não o bem-estar das pessoas. Como diz minha filha: “se liga!”

Cortella diz que Haddad foi um dos maiores Ministros da Educação que o Brasil já teve

Hoje na Gazeta do Povo

“O saldo final da gestão Haddad é positivo”

Mario Sergio Cortella, professor da PUCSP e doutor em Educação

Filósofo, autor de vários livros e doutor em Educação, o professor Mario Sergio Cortella esteve em Curitiba no dia 1.º deste mês e concedeu entrevista à Gazeta do Povo. Professor há cerca de 30 anos na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), Cortella já ocupou o cargo de secretário de educação na capital paulista e veio ao Paraná proferir uma palestra para o corpo docente do Centro Universitário Curi­­tiba (UniCuritiba). Ele defendeu ações recentes do governo federal na educação e avaliou o tempo de gestão do ex-ministro Fernando Haddad.

O governo anunciou recentemente a distribuição de tablets a escolas públicas, mas críticos dizem que não há evidências de que a medida ajude na aprendizagem dos alunos. Como o senhor avalia a questão?

Eu nunca ouvi alguém dizer que aparelho resolve aprendizagem. Então, quando um crítico vem e diz isso, ele está fazendo uma crítica contra quem? Dou um exemplo para esclarecer. Você entrega um lápis ou um livro para uma criança, mesmo que ela ainda não escreva nem leia. Ela vai aprender a usar aquilo na prática do dia a dia. O mesmo vale para novas tecnologias, como os tablets. No entanto, é claro que será preciso que estados e municípios tenham um projeto pedagógico.

No fim do ano passado o MEC anunciou a intenção de elaborar um currículo nacional único para a educação básica. A medida não afeta a autonomia dos estados e municípios na definição de conteúdos?

Assim como você tem o SUS na área da saúde, que estabelece parâmetros de atendimento, define o tipo de serviço que será oferecido e até o tempo médio de uma consulta, na área de educação também é necessário algo semelhante. Acho que os parâmetros curriculares nacionais, produzidos na gestão do ministro Paulo Renato, foram o ponto de partida para organizar essa estrutura básica.

Nos últimos anos cresceu bastante o número de vagas abertas pelo SiSU e pelo ProUni. O que o senhor acha dessa mudança no acesso ao ensino superior?

É uma grande alegria ver que estamos expandindo as vagas no ensino superior e ao mesmo tempo extinguindo algo tolo como o vestibular. Mas acho que ainda falta reverter uma tendência. Hoje cerca de 70% das vagas no ensino superior estão em instituições privadas.

Como o senhor avalia a gestão do ex-ministro Fernando Had­­dad à frente do MEC ?

Foi um dos melhores ministros que nós tivemos. Claro que não foi alguém que só teve sucessos, mas acho que o saldo final da sua gestão é positivo. Ele conseguiu levar adiante algumas políticas do governo FHC, como o Fundef e os sistemas de avaliação.

Thomaz Wood Jr diz que universidades brasileiras transformaram-se em linhas de montagem com capatazes, metas e burocracia, com professores-pesquisadores conformistas, opacos e descontentes com as condições de trabalho e as pressões por produtividade, com multiplicação de mestres/doutores ineptos e a proliferação de artigos científicos que nunca serão lidos, matando os operários e prejudicando a qualidade da produção, um sistema caro, improdutivo e insalubre

Inferno na torre… de marfim.

Thomaz Wood Jr.*

Certas profissões e ocupações povoam os sonhos dos jovens, sugerindo autor-realização ou simbolizando status. Porém, após conhecerem o apogeu, parecem seguir para um inevitável declínio. A engenharia, a advocacia e a medicina já tiveram dias melhores, mas seguem a trilha da proletarização, perdendo o prestígio e a aura. A economia e a administração também mostram sinais de decadência, depois de momentos fugazes de glória. Fenômeno similar parece atingir a ocupação de professor-pesquisador, praticada por uma pequena elite, incrustada nos andares mais elevados das torres de marfim do ensino superior. Comecemos pelo sonho. Depois, o feijão.

O professor-pesquisador, profissional que atua em programas de pós-graduação, é um ser privilegiado. Não é nem será um milionário, mas conta com salário digno e emprego vitalício. Tem liberdade para trabalhar no que lhe interessa e conta com acesso facilitado aos recursos de fundos de pesquisa. Viaja regularmente pelo mundo para discutir suas descobertas científicas em cidades fascinantes e resorts bucólicos. Dedica-se à nobre função do magistério, mas apenas oito meses por ano. Leciona poucas horas por semana para pequenas classes povoadas por corações interessados e mentes brilhantes. Seu horário de trabalho é flexível e seus objetivos e metas são determinados por ele mesmo. Vive em um campus arborizado e tranqüilo, longe da poluição e da agitação. Seus encontros sociais envolvem conversas inteligentes sobre temas relevantes. Desobrigado de olhar para o tedioso presente, concentra-se em desvendar o passado e mirar o futuro. De tempos em tempos, para ampliar seus horizontes, tem direito a um período sabático, durante o qual, com apoio de uma agência governamental, leva sua família para a Europa ou para os Estados Unidos. É reconhecido por seus pares e pela sociedade, que o têm na mais alta conta por sua sapiência e dedicação desinteressada ao bem comum. Afinal, ajuda a edificar os pilares do nosso progresso tecnológico e a formar nossa futura elite intelectual.

Essa imagem idílica pode ser observada em Harvard, Oxford e Cambridge ou, mais provavelmente, nas películas de Hollywood que romanceiam a vida nessas universidades. No entanto, a realidade parece caminhar em outra direção. Em renomadas instituições de ensino locais o mato cresce, o ar-condicionado não funciona, as mentes brilhantes deram lugar a criaturas conformistas e opacas, e a vida acadêmica assemelha-se cada vez mais ao trabalho em uma linha de montagem fordista, com capatazes, metas e uma irritante burocracia.

Conseqüência: cresce o descontentamento com as condições de trabalho e as pressões por produtividade na torre de marfim. Parte da revolta deve-se à reação usual a mudanças. No entanto, há também uma preocupação legítima com um sistema caro, pouco produtivo e que apresenta efeitos colaterais preocupantes, como a multiplicação de mestres e doutores ineptos e a proliferação de artigos científicos que nunca serão lidos.

Uma pesquisa publicada recentemente por Otacílio Antunes Santana, do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Pernambuco, explora outra dimensão preocupante da mesma questão: o efeito das condições de trabalho sobre a saúde dos docentes de pós-graduação. Seu ponto de partida foi a constatação do aumento de pedidos de licenças médicas, principalmente aquelas relacionadas a sintomas ou conseqüências de doenças cardiovasculares.

Santana analisou dados de 540 professores de seis faixas etárias, entre 36 e 65 anos. Suas conclusões fazem eco a um debate emergente na academia brasileira, acerca da pressão por produção científica e pela formação de mestres e doutores. A pesquisa comprovou que, quanto maior o número de publicações científicas e o número de orientandos, maior o número de intervenções cardíacas, doenças coronárias e acidentes vasculares cerebrais. Em suma, trabalhar nessas condições faz mal. O quadro é agravado, segundo Santana, pela falta de dieta equilibrada, de atividades físicas e acompanhamento médico regular dos docentes. Nas mais diversas latitudes e longitudes, o modelo tradicional de universidade está sendo criticado. Acelerar a linha de montagem e produzir mais mestres, doutores e artigos científicos é uma resposta simples para o desafio que se coloca, mas parece estar matando os operários e prejudicando a qualidade da produção. Pode ser mais um marco da passagem da era da elite bem pensante para a da pesquisa burocrática, conduzida por operários do conhecimento, uma etapa que talvez ainda resulte em ciência, mas por enquanto apenas mascara um sistema caro, improdutivo e insalubre.

Publicado na revista Carta Capital, edição nº 680

* Thomaz Wood Jr. é professor da FGV e articulista das revistas Carta Capital e Exame.