Publicação apoiada pela OAB/PR diz que aumento dos tributos é devido à corrupção e diminui a competitividade. Não me representa!

Na cartinha “A Sombra do Imposto”, da FIEP/SESI/SENAI/IEL, que tem apoio da OAB/PR, Rotary, Associação Comercial do Paraná, entre outras entidades, e distribuída pela OAB para todos os advogados do Paraná (portanto, com o meu dinheiro e de todos os advogados paranaenses), quando trata de “competitividade”, diz que “o aumento da carga tributária, em boa parte ocasionado pela corrupção, diminui a competivitidade da economia no país, fazendo com que empresas deixem de gerar mais emprego e renda” (p. 11).

Quanta besteira. O aumento da carga tributária ocorre para sustentar o Estado Social e Democrático de Direito, assegurado por nossa Constituição de 1988. O aumento da carga tributária ocorre porque os mais ricos nesse país não pagam impostos. A carga tributária aumenta para que o Estado possa cumprir a Constituição e assegurar educação, saúde, e diminuição das desigualdades. A carga tributária também pode aumentar por gastos inúteis em burrocracias, e também por causa da corrupção. Mas a corrupção é apenas uma parcela da motivação.

A OAB/PR apoia essa bobagem? Se apoia não me representa!

Charge: a ideologia da corrupção

Folha de S. Paulo de ontem

Corrupção em 1993 no Brasil, veja vídeo

Será que hoje há mais corrupção, ou atualmente a democracia mais sólida, a necessidade de transparência e o maior controle social e dos próprios órgãos de controle a corrupção é mais aparente? Veja o vídeo divulgado pelo jornalista José Wille.

A luta contra a corrupção deve ser da esquerda – Tarso Genro

Na Carta Maior

A agenda da corrupção no Brasil, pautada de forma intensa pela grande mídia, após a eleição de Lula – uma agenda secundarizada enquanto ocorriam as privatizações e a integração subordinada do Brasil na globalização- é uma agenda importante. Embora tenha sido instrumentalizada, ela não só deve ser acolhida, mas estimulada pela esquerda, para disputar com a direita e a própria grande mídia o sentido a ser dado à luta pela reforma do Estado. O artigo é de Tarso Genro. Continuar lendo

Democratas, PMDB, PSDB, PP e PTB são os partidos com mais corruptos

O levantamento acima foi produzido pelo Comitê Nacional do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral a partir de informações divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral – TSE, relatando estatísticas sobre a corrupção política no Brasil a partir da aprovação da Lei n° 9.840/99, entre 2000 e 2007, quando foi divulgado inicialmente.

Nesse período 623 políticos brasileiros tiveram seus mandatos cassados após a instalação de processos para averiguar denúncias de corrupção, por práticas abusivas que incluem captação ilícita de sufrágio, condutas vedadas aos agentes públicos e abuso de poder, com cassações promovidas pela Justiça Eleitoral, sem a inclusão de políticos cassados em virtude de condenações criminais.

A pesquisa foi realizada pelo juiz Marlon Reis, presidente da Associação Brasileira de Magistrados, Procuradores e Promotores Eleitorais e integrante do Comitê Nacional do MCCE, com base em dados processuais informados pela Justiça Eleitoral (TSE, TREs, etc.).

Outro estudo também coloca o DEMO e o PSDB entre os partidos envolvidos com mais corrupção, veja aqui.

Sujeitos ainda ocultos – Entrevista com Leonardo Avritzer e Filgueiras na Carta Capital

Na Carta Capital de 07/03/2012

Segundo os especialistas da UFMG, o Brasil precisa aprender a também punir os corruptores

CRIADO EM 2006, o Centro de Referência do Interesse Público, ligado à Universidade Federal de Minas Gerais, tornou-se um núcleo reconhecido de estudos sobre democracia e Estado. Um de seus temas preferenciais é a compreensão dos fenômenos da corrupção. Para quem não aguenta mais a maneira infantil e rasa com que o assunto costuma ser tratado pela mídia e por alguns bunkers acadêmicos considerados bem-pensantes, os trabalhos do Centro são um oásis. Corrupção e Sistema Político no Brasil, uma coletânea de artigos de especialistas variados, comprova outra vez a excelência do Centro. Os organizadores do livro, Leonardo Avritzer e Fernando Filgueiras, concederam a seguinte entrevista.

Ver completa: Continuar lendo

É hora de punir os corruptores – Carlos Zarattini

Por trás dos escândalos, há sempre contratos milionários, mas pouco se fala das empresas corruptoras; é preciso foco especial no sistema financeiro

O ano de 2012 começa com o Congresso Nacional diante do desafio histórico de estabelecer um marco legal para a vigência dos valores éticos nas relações entre o público e o privado no país.

Trata-se da apreciação do projeto de lei 6826/2010, encaminhado ao Congresso pelo ex-presidente Lula, para contornar a falta de uma legislação que responsabilize pessoas jurídicas em atos contra a administração pública nacional e estrangeira, em especial pelos atos relacionados à corrupção.

No noticiário, dificilmente se fala do papel das empresas corruptoras nas tramas que solapam os cofres públicos. Não há corrupção sem corruptor e, por trás de todos os escândalos, normalmente há disputas milionárias por contratos.

Há uma tendência de resumir todos os males ao setor público e aos políticos, mas a verdade é que segmentos da iniciativa privada estão ligados aos recorrentes escândalos e ao superfaturamento. Isso não acontece só no Brasil, mas também em democracias já consolidadas.

Empresas que usam artifícios que não são republicanos para obter favores arruínam os princípios morais, semeiam maus exemplos e impregnam a sociedade do sentimento de que se pode levar vantagem em tudo.

O projeto de lei dispõe sobre a responsabilidade administrativa e civil de pessoas jurídicas e dá mais um passo nas ações de combate à corrupção que estão sendo adotadas desde 2003.

Ele é mais rigoroso e abrangente que a Lei de Licitações e inclui, por exemplo, punições a atos de corrupção relacionados ao âmbito tributário, ao sistema bancário público e às agências reguladoras.

Cumpriremos obrigações assumidas perante órgãos como a ONU, a OEA e a OCDE. O projeto de lei prevê multas e sanções administrativas, como a proibição de contratos com o setor público.

Uma comissão especial na Câmara da qual sou relator tem realizado audiências públicas para ouvir empresários, juristas e órgãos de controle. Vamos colocar o Brasil no rol dos países que já contam com uma legislação que responsabiliza pessoas jurídicas por atos de corrupção, como os EUA (1977), a Espanha (1995) e mais recentemente o Reino Unido (2010).

O projeto prevê também a responsabilização objetiva das empresas, afastando a discussão sobre a culpa ou dolo da pessoa física na prática da infração.

Retira-se também a necessidade de identificação da autoria da conduta, com as dificuldades inerentes de comprovação dos elementos subjetivos envolvidos na caracterização do ilícito. Impõe-se a responsabilização da pessoa jurídica, uma vez comprovado o fato, o resultado e o nexo causal entre eles. Isso não significa, porém, eliminar eventual responsabilização da pessoa física em processo apartado.

Defendemos ênfase na responsabilização administrativa e civil porque a realidade mostra que esses processos têm se revelado muito mais rápidos e efetivos no combate à corrupção.

É preciso também um foco especial no sistema financeiro, com punições para as omissões de funcionários públicos que fiscalizam o setor e também para a ação de inescrupulosos operadores.

Na crise de 2008, nos Estados Unidos, foi possível observar que operadores do sistema financeiro estiveram na gênese dos problemas e, a despeito da existência de lei, não foram punidos.

Mas, para a transformação do projeto em lei, vencendo as naturais resistências, será fundamental a participação da sociedade e sua manifestação favorável a essa histórica medida.


CARLOS ZARATTINI, 52, economista com especialização em engenharia de transportes, é deputado federal (PT-SP)

Corrupção: problema maior é dos Poderes Judiciário e Legislativo, e não do Executivo e Ministério Público

Segundo matéria da Gazeta do Povo de hoje, o Poder Judiciário condena apenas 4,7% dos suspeitos de corrupção no âmbito da Administração Pública federal. A reportagem mostra que o Poder Executivo federal faz a sua parte ao demitir os servidores, mas o Poder Judiciário não os pune.

Eu diria então que o problema da corrupção no Brasil, hoje, não está no controle interno exercido pelo Poder Executivo ou mesmo no Ministério Público que faz os encaminhamentos devidos. O problema está no nosso lento Poder Judiciário e também, em alguns momentos, na nossa legislação.

Talvez um órgão que ainda falta ser aprimorado e é pouco controlado é o Tribunal de Contas, por isso a importância da criação de um Conselho Nacional dos Tribunais de Contas.

Por isso sou um otimista com relação à Administração Pública. A corrupção, o patrimonialismo, infelizmente, sempre existiram no período monárquico, na pseudo República brasileira da primeira metade do século XX e no período da ditadura militar. Inclusive, quem questionasse a corrupção no período pós golpe militar de 1964 ia para o pau-de-arara. mas muitos enriqueceram ilicitamente no período ditatorial.

Hoje temos uma polícia federal atuante e independente, um Ministério Público também atuante e um Poder Executivo que cada vez mais cumpre o preceito constitucional do controle interno. Por isso que a corrupção é cada vez mais emergente. Emerge de onde ela sempre existiu mas não aparecia.

O Conselho Nacional de Justiça – CNJ e o Conselho Nacional do Ministério Público – CNMP independentes e com poderes também são essenciais.

A imprensa escrita e a blogosfera cada vez mais atuante também são elementos essenciais para o controle da Administração Pública.

O que ainda falta é o aprimoramento de algumas leis no âmbito administrativo, processual e criminal, e uma Justiça mais eficaz. Que tal começar pelo fim das férias de 2 meses dos magistrados e membros do MP?

Requião diz que Beto Richa fez “maracutaia” ao privatizar avião

Neste domingo, no programa Jogo do Poder Paraná, do Luiz Carlos da Rocha, o senador pelo PMDB/PR, Roberto Requião, disse que o governador Beto Richa (PSDB) vendeu um avião reformado em bom estado, por pouco mais de R$ 1 milhão, para querer comprar outro por mais de R$ 16 milhões. “Isso se chama maracutaia”, disse Requião.

O senador denunciou que o governo Beto Richa vendeu o avião por um valor mais barato do que o valor gasto na reforma do aparelho.

Requião disse ainda que o candidato do PMDB para a eleição a prefeitura de Curitiba é Rafael Greca, que se for a ele solicitado pode ser candidato ao governo do Paraná em 2014, e que quem governa de fato o Paraná, hoje, é Cássio Taniguchi e a turma do Jaime Lerner, que ele disse que é ficha-suja, enquanto o governador Carlos Alberto anda de Ferrari por ai.

Rochinha, parabéns pela entrevista!

5ª feira na Assembleia: Romeu Bacellar, Emerson Gabardo, Cesar Guimarães Pereira e Luiz Fernando Delazari sobre corrupção

Do Blog do Esmael

Comissão do projeto da lei anticorrupção realiza seminário quinta (1º) no Paraná

* Evento da Câmara será às 14h na Assembleia Legislativa

A Comissão Especial (CE), que analisa a criação de medidas contra empresas corruptoras (Projeto de Lei 6826/10), promove na quinta-feira (1º), em Curitiba (PR), o seminário “O PL 6826/10 e o Direito Administrativo”. O evento, programado para as 14h no Plenarinho da Assembleia Legislativa, terá participação de especialistas em direito administrativo e tributário e licitação pública.

De acordo com o presidente, deputado João Arruda (PMDB-PR), a intenção da comissão é concluir o relatório e votar a proposta da Presidência da República ainda em dezembro. “Esta lei vai criar uma cultura saudável de combate à corrupção, também dentro das empresas”, informou.

“Hoje, as penalizações são basicamente aos agentes públicos. Com este projeto, a União quer também estender as sanções para aquelas empresas e empresários que incentivam atos lesivos contra a administração pública”, completou João Arruda.

O seminário do Paraná é o quarto organizado pelos deputados desde que a CE foi instalada, em 19 de outubro passado. O relator do projeto, Carlos Zarattini (PT-SP), confirmou presença na audiência. “A corrupção enfraquece as instituições e os valores das democracias”, afirma.

Palestrantes:

Para o seminário em Curitiba foram convidados os seguintes palestrantes:
– o professor Romeu Felipe Bacelar Filho, da Universidade Federal do Paraná (UFPR);
– o advogado Cesar Augusto Guimarães Pereira;
– o professor de Direito Administrativo da UFPR e da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR) Emerson Gabardo;
– o juiz Sérgio Fernando Mouro;
– o advogado Luiz Fernando Delazari;
– o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Edson Luiz Campagnolo.

Legislação atual prevê penalizações brandas às empresas corruptoras

O projeto, elaborado pelo Poder Executivo e enviado ao Congresso Nacional no ano passado, responsabiliza administrativamente e civilmente as pessoas jurídicas que praticarem atos lesivos contra a administração pública.

Atualmente, a punição prevista para a empresa corruptora é a proibição de manter contratos com o Poder Público, mas não há qualquer responsabilização criminal nem administrativa. O projeto estabelece punições nessas duas áreas.

As sanções administrativas incluem a reparação integral do dano causado, o impedimento de receber incentivos fiscais ou subvenções e o pagamento de multas que podem alcançar até 30% do faturamento bruto. Quando não for possível determinar o faturamento, a Justiça poderá arbitrar um valor entre R$ 6 mil e R$ 6 milhões para a multa.

Na área judicial, a empresa ficará sujeita à perda de bens e à suspensão ou interdição parcial das suas atividades. Nos casos mais graves, ela poderá ser dissolvida judicialmente.

SERVIÇO:

Seminário da comissão da Câmara Federal do projeto da lei anticorrupção
Tema: “O PL 6826/10 e o Direito Administrativo”
Dia e horário: 1º de dezembro de 2011, às 14h
Local: Plenarinho da Assembleia Legislativa do Paraná
Mais informações (41) 3078-5633

Luta contra a corrupção no Brasil – Francisco do Rêgo Monteiro Rocha Júnior

Hoje na Gazeta do Povo

O Projeto de Lei 6.826 de 2010, que tramita na Câmara dos Deputados, é uma iniciativa que criará mecanismos para combater a corrupção das pessoas jurídicas, penali­­zan­­do-as com sanções civis e administrativas

As recentes manifestações e atos contra a corrupção em várias capitais brasileiras fazem lembrar o quão atuais são as palavras de Sérgio Buarque de Holanda no seu clássico Raízes do Brasil. Explica-nos o historiador que dentre as chaves para a compreensão do Brasil estão o patrimonialismo (a confusão entre público e privado que norteia a atuação de nossos representantes) e a nossa famosa cordialidade (uma ética emotiva que exige que sejamos íntimos no trato social, nos negócios ou no trabalho para termos sucesso, ao invés de apresentarmos o melhor trabalho, preço ou produto). Em suma, são as duas matrizes que definem aquilo que chamamos de jeitinho brasileiro.

Muito maior que o famoso “custo Brasil”, referente aos altos encargos sociais e trabalhistas arcados pelas nossas empresas, quer parecer que o preço desse traço da nossa sociedade faz com que investimentos sejam dificultados, o desenvolvimento retardado e a livre iniciativa distorcida para favorecer grupos atrelados de maneira direta ou indireta ao Estado.

Evidentemente que as conquistas legislativas para combater tal estado de coisas sempre sofreram com as dificuldades inerentes ao fato de que as leis, normalmente, são elaboradas pelos mesmos grupos que se beneficiam da sua inexistência. Não obstante, tem-se constatado avanços tanto em nossa legislação quanto em nossa postura política internacional sobre o tema. É o que se vê com a Lei de Licitações, a Lei de Responsabilidade Fiscal e a própria responsabilização criminal das pessoas físicas envolvidas em atos de corrupção. E ainda, pela ratificação pelo Brasil da Convenção Anticorrupção da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em 1997, e da Convenção da ONU contra a corrupção em 2003.

Nessa linha, seja por uma efetiva vontade de combater a corrupção, seja pela pressão dos organismos internacionais para que o Brasil efetive os tratados que ratificou, desponta em nossa pauta legislativa o Projeto de Lei 6.826 de 2010 que tramita na Câmara dos Deputados. Trata-se de iniciativa que criará mecanismos para combater a corrupção das pessoas jurídicas, penalizando-as com sanções civis e administrativas que recairão não mais somente sobre as pessoas, mas sobre as empresas e corporações flagradas praticando tais tipos de atos.

Entre as práticas que serão combatidas pela futura lei, verifica-se no artigo 6.º do projeto a promessa direta ou indireta a agente público ou pessoa a ele relacionada (inciso I), o ajuste a e combinação que frustre o caráter competitivo da licitação (inciso II), o afastamento de licitante através de oferecimento de vantagem (inciso IV), entre outras condutas ativas ou omissivas relacionadas à corrupção.

Dentre as penas, como se depreende do artigo 7.º do projeto, tem-se multa no valor de até 30% do faturamento bruto da pessoa jurídica (inciso I), reparação integral do dano causado (inciso III), proibição de contratar, receber incentivos e subsídios (inciso V), revogação de delegação, autorização ou permissão da administração pública, dentre outras sanções.

Poderia alguém criticar que tal tipo de iniciativa legislativa estaria longe de se constituir no elixir mágico que mudaria todo o cenário denunciado há quase oito décadas por Sergio Buarque de Holanda. Inclusive, poderia citar o fato de que as leis similares de outros países, como o Foreign Corrupt Practices Act norte-americano e o recentíssimo Anti-bribery Act do Reino Unido, não extirparam por lá esse mal.

Não obstante, é de se convir que a consolidação do Brasil como uma potência emergente não pode se atrelar única e exclusivamente à luta contra a pobreza; deve também abrir espaço para que a riqueza possa ser construída e usufruída por todos e por qualquer um. E esse usufruto clama por armas para derrotar o “jeitinho”.

Francisco do Rêgo Monteiro Rocha Júnior, mestre e doutorando em Direito pela UFPR, é coordenador da pós-graduação em Direito e Processo Penal da ABDConst, professor da Unibrasil e advogado criminalista.

Charge: Derosso, já vai tarde e não volte mais!

Charge: STF empata f*

Ontem na Gazeta do Povo

Manifestantes contra a corrupção vêem país pior do que há 10 anos

Do Blog Cidadania

No início da tarde de 12 de outubro de 2011, comecei a ver na internet notícias de que uma das marchas contra a corrupção que a mídia vinha anunciando havia semanas reunira milhares em Brasília. Apesar disso, não se encontrava notícias de outras capitais. Por volta das 15 horas, então, por morar próximo ao Masp, local de partida da marcha de São Paulo, decidi ir até lá tentar entender esse movimento “apartidário” e “contra a corrupção”.

Todavia, cheguei tarde ao local de partida da “marcha”. Encontrei um grupo de cerca de 50 pessoas. Segundo os presentes, a marcha maior partira rumo ao centro da cidade havia alguns minutos. Os que ficaram no Masp, segundo disseram, romperam com a maioria que decidira marchar pela avenida Paulista, depois pela avenida da Consolação, depois pela rua Xavier de Toledo até chegar à Praça Ramos de Azevedo, diante do Teatro Municipal, onde o ato chegaria ao fim após alguns discursos.

Já no cruzamento da avenida Paulista com a Consolação, vendo que o tráfego continuava engarrafado rumo ao centro, apressei o passo. No caminho, encontro o blogueiro mineiro Tulio Viana e a esposa, a também blogueira Cintia Semiramis, descendo de um táxi em frente a um hotel. Falo com eles rapidamente e continuo caminhando, mas só vejo congestionamento e nada de manifestação.

Vou andando e vejo gente vestida a caráter para uma manifestação daquela natureza. Estavam indo na mesma direção ou voltando em sentido contrário. Alguns com caras pintadas de verde e amarelo, outros até portando cartazes e bandeiras do Brasil. Paro um casal em suas bicicletas, identifico-me como blogueiro político e pergunto se me poderiam dar uma rápida entrevista.

Ali começo a fazer a série de perguntas que faria nas outras 27 entrevistas durante as quase duas horas seguintes.  Pergunto, basicamente, o seguinte:

1 – Como você tomou conhecimento da manifestação?

2 – Por que você decidiu participar dessa manifestação?

3 – Você lê a revista Veja, a Folha de São Paulo ou o Estadão?

4 – Você acha que hoje há mais corrupção no Brasil do que há dez anos?

5 – Você acha que hoje o Brasil é um país pior, igual ou melhor do que há dez anos?

6 – Quantas pessoas você acha que há nessa manifestação?

A bela e esguia jovem de pele bem branca e cabelos lisos, negros e bem cuidados, vestindo roupa de malha dessas que se usam em academias e um short jeans, e o rapaz forte, alto, vestindo short e camiseta, a quem ela chamou de “amor”, não desceram das suas bicicletas para me dar entrevista, apesar de terem sido simpáticos e receptivos. Eis as suas respostas consensuais:

1 – Souberam da manifestação pelo Facebook

2 – Foram se manifestar devido ao aumento da corrupção

3 – Lêem Folha e Veja

4 – Disseram que hoje há muito mais corrupção do que há dez anos

5 – Disseram que hoje o Brasil é um país muito pior do que há dez anos

6 – Estimaram que a manifestação reuniu em torno de três mil pessoas.

Consigo encontrar a marcha só quando chego ao limiar da rua Xavier de Toledo, a algumas quadras do teatro da Praça Ramos de Azevedo.  Correra por quarteirões e já estava pondo os bofes para fora e suando em bica.  Continuo caminhando, agora, mas meus passos ainda são mais rápidos do que os da marcha.

Vou parando os policiais, no caminho, e pedindo estimativa do número de manifestantes. Alguns falam em quatrocentos, outros falam em quinhentos, outros falam oitocentos. Quando encontro o oficial da PM responsável pela operação que acompanhou a manifestação, porém, o número muda: o capitão, um simpático oriental de óculos, diz que a PM estima o público em “três mil pessoas”.

Decido ultrapassar a marcha quando vislumbro o Teatro Municipal ao fim da Xavier de Toledo. Começo a correr. Chego ao Teatro e subo a escadaria. Começo uma contagem. Contei umas setecentas pessoas. Parecia mais porque a rua estava cheia de transeuntes. Mas como os manifestantes caminhavam pela via dos veículos, deixando a calçada para os transeuntes, consegui fazer uma contagem que julgo bem razoável.

Começo, então, a me esgueirar entre a multidão a fim de fazer aquela série de perguntas mencionada mais acima. As únicas divergências para o casal de ciclistas que obtive foram no que diz respeito a quem lê Folha, Veja e Estadão, quanto ao número de manifestantes e quanto à forma como essas pessoas ficaram sabendo da manifestação.

A maioria, em 19 entrevistas, lê algum desses veículos, seja em papel ou pela internet, e os números que os entrevistados diziam haver de manifestantes iam de quinhentos a dez mil. Quanto à forma pela qual tomaram conhecimento da manifestação, citaram e-mails, jornais, revistas, boca a boca, blogs e sites, Twitter e Facebook.

Das 27 entrevistas, em 26 ouvi das pessoas que estavam lá por acharem que há muita corrupção. Essa maioria esmagadora afirma que há mais corrupção hoje no Brasil do que há dez anos e que hoje o país está muito pior do que há dez anos até na economia. Ou, como ouvi muito, “O país está pior em todos os sentidos”.

Na maioria das entrevistas, as pessoas acabaram atacando o PT, Lula, Dilma ou todos juntos. Quase todos disseram que a culpa pela corrupção é desse partido. O mais xingado foi, de longe, Lula. Um casal, inclusive, falou em impeachment de Dilma caso “a coisa continue a piorar”. Só um casal jovem que estava lá porque passava pelo local disse que hoje a corrupção aparece mais porque há mais informação e que o país está muito melhor hoje do que há dez anos.

Entre os organizadores do ato, descobri que estavam movimentos como o “Defenda São Paulo”, muitos alunos da universidade Mackenzie (havia até um professor contando, ao microfone, como ajudou a recrutá-los em sala de aula), a “juventude do PSDB” e o grupo Anonymous. Uma das entrevistadas se disse “militante do partido”, mas quando perguntei de que partido ela desconversou e passou a me ignorar, não mais respondendo as perguntas. E sumiu em seguida.

Por volta das 17 horas, fiz a última entrevista. Escolhi o que quase não se via na manifestação: um negro. Fiz a série de perguntas e ele, que se identificou como “Tiago”, estudante de Direito da universidade Unip, leitor da Veja e do Estadão, concordou com os outros que hoje há mais corrupção e que o país está pior do que nunca. Mas disse não entender por que não havia mais negros, ali. E arrematou: “É uma manifestação branca”

Charge: Gremlins

Hoje na Folha de S. Paulo

Charge: corrupto maldito, corrupto maldito, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá…

Corrupção política e apatia social


Por CEZAR BUENO (hoje na Gazeta do Povo)

A ausência de clareza ideológica dos partidos políticos em países como os EUA e Brasil contribui para o esva zia mento do processo político e o declínio do interesse da participação popular

Charge: Mercado corruptor sedento

Hoje na Folha de S. Paulo