“Enquanto a Apple se comporta de modo ditatorial, a Xiaomi é bastante democrática”

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Hoje na Folha de S. Paulo

ENTREVISTA DA 2ª KAL RAUSTIALA E CHRISTOPHER SPRIGMAN

Copiar nem sempre prejudica a criatividade; na verdade, estimula

Para especialistas em propriedade intelectual, liberdade para imitar muitas vezes resulta em inovação e permite que os pobres desfrutem de símbolos do consumo

MARCELO NINIO DE PEQUIM

Demonizada pelos que defendem a ampliação das leis de patentes, a cópia nem sempre é inimiga da inovação. Ao contrário: com frequência, é a mãe da invenção.

É o que afirmam dois especialistas em propriedade intelectual, os norte-americanos Kal Raustiala e Christopher Sprigman, autores de “The Knockoff Economy” (“A Economia da Cópia”, ainda não editado em português).

Remando contra a corrente das críticas à indústria da cópia, sobretudo a da China, eles dizem que há casos de sobra em que a liberdade para imitar resultou em inovação, como nos setores do software e da moda.

Leia trechos da entrevista que eles concederam à Folha, por e-mail. Continuar lendo

Steve Jobs, empregos e carros – Paul Krugman

Visão de mundo atual dos republicanos não aceita que empresas bem-sucedidas não existem isoladamente

Mitch Daniels, antigo diretor de Orçamento da Casa Branca na era George W. Bush e agora governador de Indiana, apresentou a resposta republicana ao discurso do presidente Barack Obama sobre o Estado da União. Seu desempenho foi, bem, tedioso. Mas disse uma coisa que me levou a refletir -e não da maneira que ele gostaria.

Ele tentou recobrir seu partido com o manto de Steve Jobs, a quem retratou como um grande criador de empregos -algo que Jobs claramente nunca foi. E, ao perguntarmos por que a Apple criou tão poucos empregos nos EUA, descobrimos alguma coisa sobre o que há de errado com a ideologia que domina boa parte da política americana atual.

Daniels primeiro criticou o presidente por “sua constante depreciação de homens e mulheres de negócios”, o que na verdade representa uma completa mentira. Obama jamais agiu assim. E prosseguiu: “O grande Steve Jobs -e como seu nome era adequado [jobs é empregos em inglês]- criou mais postos de trabalho do que todas aquelas verbas de estímulo que o presidente tomou emprestadas e desperdiçou”.

Daniels claramente não tem grande futuro no ramo do humor. Mas o que importa é que que sua afirmação é completamente falsa: a Apple emprega pouca gente nos EUA.

São apenas 43 mil pessoas nos EUA. No entanto, cria empregos indiretos para cerca de 700 mil pessoas em seus diversos fornecedores. Infelizmente, quase nenhum deles está estabelecido nos EUA.

Por que a Apple fabrica no exterior, especialmente na China? O atrativo não são só os baixos salários. A China também oferece grande vantagem porque já abriga boa parte da cadeia de suprimentos.

As empresas de sucesso -ou ao menos as que dão grande contribuição para a economia de um país- não existem isoladamente. A prosperidade depende da aglomeração, e não do empresário individual.

Mas a visão de mundo atual dos republicanos não aceita esse tipo de consideração. Da perspectiva do partido, tudo depende do empresário heroico, do “criador de empregos”, que nos cumula de benefícios e, portanto, precisa ser premiado com alíquotas tributárias inferiores às pagas pela classe média.

E essa visão ajuda a explicar a furiosa oposição de muitos republicanos à iniciativa política de maior sucesso dos últimos anos -o resgate à indústria automobilística.

Se a quebra da GM e da Chrysler fosse permitida, elas teriam arrastado consigo boa parte da cadeia de suprimentos, o que derrubaria também a Ford. Felizmente, o governo Obama não permitiu isso.

Por isso, deveríamos agradecer a Daniels pelas suas declarações. Ele estava errado quanto aos fatos, mas sem querer colocou em destaque uma importante diferença filosófica entre os partidos. Um lado acredita que a economia só encontra sucesso graças a heroicos empreendedores; o outro nada tem contra os empreendedores, mas acredita que necessitem de um ambiente de sustentação e que o governo ocasionalmente precisa ajudar a criar ou manter esse ambiente.

E a interpretação de que o país precisa de mais que heróis dos negócios se enquadra perfeitamente aos fatos.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

No último dia do ano, a revelação da grande realização (talvez única) do governador Beto Richa

Deixei para o último dia de 2011 a grande notícia do ano. Veja a Coluna do Reinaldo Bessa da Gazeta do Povo de 21 de dezembro de 2011:

Fã da maçã

O governador do Paraná já está com seu novo iPhone 4S em mãos. Mostrando que é um aficionado pela tecnologia, Beto Richa esteve na loja da Claro do ParkShoppingBarigüi na última sexta-feira – e foi um dos primeiros paranaenses a adquirir o lançamento da Apple. Acompanhado do amigo Fabrício de Macedo, ele foi recebido pela gerente Lívia Bettega.

Steve Jobs X Colaboração

Steve Jobs: inimigo da colaboração

Por Rodrigo Savazoni, no sítio NovaE: (divulgado no Paraná Blogs, por Sergio Bertoni)

Steve Jobs morreu, após anos lutando contra um câncer que nem mesmo todos os bilhões que ele acumulou foram capazes de conter. Desde ontem, após o anúncio de seu falecimento, não se fala em outra coisa. Panegíricos de toda sorte circulam pelos meios massivos e pós-massivos. Adulado em vida por sua genialidade, é alçado ao status de ídolo maior da era digital. É inegável que Jobs foi um grande designer, cujas sacadas levaram sua empresa ao topo do mundo. Mas há outros aspectos a explorar e sobre os quais pensar neste momento de sua morte.

Jobs era o inimigo número um da colaboração, o aspecto político e econômico mais importante da revolução digital. Nesse sentido, não era um revolucionário, mas um contra-revolucionário. O melhor deles.

Com suas traquitanas maravilhosas, trabalhou pelo cercamento do conhecimento livre. Jamais acreditou na partilha. O que ficou particularmente evidente após seu retorno à Apple, em 1997. Acreditava que para fazer grandes inventos era necessário reunir os melhores, em uma sala, e dela sair com o produto perfeito, aquele que mobilizaria o desejo de adultos e crianças em todo o planeta, os quais formam filas para ter um novo Apple a cada lançamento anual.

A questão central, no entanto, é que o design delicioso de seus produtos é apenas a isca para a construção de um mundo controlado de aplicativos e micro-pagamentos que reduz a imensa conversação global de todos para todos em um sala fechada de vendas orientadas.

O que é a Apple Store senão um grande shopping center virtual, em que podemos adquirir a um clique de tela tudo o que precisamos para nos entreter? A distopia Jobiana é a do homem egoísta, circundado de aparelhos perfeitos, em uma troca limpa e “aparentemente residual”, mediada por apenas uma única empresa: a sua. Por isso, devemos nos perguntar: era isso que queríamos? É isso que queremos para o nosso mundo?

Essa pergunta torna-se ainda mais necessária quando sabemos que existem alternativas. Como escreve o economista da USP, Ricardo Abramovay, em resenha sobre o novo livro do professor de Harvard Yochai Benkler The Penguin and the Leviathan, a cooperação é a grande possibilidade deste nosso tempo.

“Longe de um paroquialismo tradicionalista ou de um movimento alternativo confinado a seitas e grupos eternamente minoritários, a cooperação está na origem das formas mais interessantes e promissoras de criação de prosperidade no mundo contemporâneo. E na raiz dessa cooperação (presente com força crescente no mundo privado, nos negócios públicos e na própria relação entre Estado e cidadãos) estão vínculos humanos reais, abrangentes, significativos, dotados do poder de comunicar e criar confiança entre as pessoas.”

Colaboração: essa, e não outra, é a palavra revolucionária. E Jobs não gostava dela.