Recentemente, no blog Caixa Zero, o jornalista Rogerio Galindo lembrou bem como o governo de Beto Richa (PSDB) deve ser avaliado: a partir da expectativa criada com suas promessas de campanha. Na campanha, Richa discursou que “faria mais com menos” e combateu ainda o “aparelhamento” do estado pelo seu antecessor, Roberto Requião (PMDB).
Após 3 anos de governo, o castelo de cartas que possibilitou a eleição de Richa e a elaboração de sua “plataforma de governo” vai desmoronando. Ao invés de fazer mais com menos, o governo do Paraná está em grave crise financeira, sem ter algo que justifique isso. Calotes em trabalhadores, telefones cortados e falta de gasolina para ambulâncias e patrulhas, noticiados nas últimas semanas, mostram que o governo não está fazendo nem o básico.
Ainda no campo das promessas de Richa, parece que o discurso de campanha falava em “mais aparelhamento”. É isso que percebemos quando escutamos os relatos de trabalhadores da APPA, SANEPAR, COPEL, RTVE, Secretaria de Saúde e Educação. Nesses órgãos, aumentaram os cargos comissionados e a influência “não-técnica” nas decisões.
Mas parece que nada se compara a situação da COHAPAR (Companhia de Habitação do Paraná), uma empresa pública de economia mista que, segundo seu site, tem como “visão” “ser a melhor Companhia de Habitação do país”.
A COHAPAR atua (ou deveria atuar) numa área social de bastante sensibilidade e necessidade, que é a área da moradia, um direito básico ainda negado a milhões de brasileiros e milhares de paranaenses. Mas, justamente por atuar em tão importante área, a empresa é vista como um “filé” para as intenções de apadrinhados políticos dos governos de ocasião. Não foi diferente no governo Richa e, por isso, a atuação da COHAPAR atualmente está baseada em critérios deliberados “não-se-sabe-bem-onde”.
Mas não é só no quesito aparelhamento que a COHAPAR é um símbolo do governo de Beto Richa. Em 2013, os trabalhadores assinaram um Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) que garantia uma reposição salarial de 8,5% a partir do mês de junho. Essa reposição já era insuficiente para garantir o pagamento de perdas anteriores, especialmente em 2011 e 2012 e, mesmo assim, o governo não pagou.
Por conta do calote, os trabalhadores da Companhia se mobilizaram e realizaram assembleias com ampla participação. Diante a ameaça de uma inédita greve e com uma ação judicial exigindo o cumprimento do ACT, a COHAPAR pagou o que devia no fim do mês de outubro e agora no dia 20 de novembro, em folhas de pagamento extras.
Durante o processo de mobilização, os trabalhadores foram bastante ameaçados pela direção da COHAPAR, que não teve vergonha de ameaçar e pressionar os funcionários, para que estes aceitassem o calote. Mas a retaliação não foi só com estas ameaças: no dia 25 de novembro, data em que deveria chegar o salário referente a este mês (a data está prevista no ACT), a Companhia enviou e-mail avisando que, por conta das folhas de pagamento extras, os salários só seriam pagos no último dia do mês. Alegando questões técnicas, a COHAPAR e o governo Richa mostraram que não estão pra brincadeira quando o assunto é maltratar seus trabalhadores.
Agora fica a pergunta: é com estes procedimentos que a COHAPAR pretende ser a melhor Companhia de Habitação do país?
Realmente é uma vergonha o que está acontecendo na Cohapar. Antes de ontem houve assembléia no SINDASPP para discutir o atraso no pagamento dos salários. Algo inédito nos 48 anos da Cohapar. Os funcionários que emitiram opinião, contrária a diretoria, foram chamados e repreendidos por seus gestores, a mando do Luciano Machado, o diretor administrativo e financeiro.
A chapa para eleição da Associação dos Funcionários da Cohapar foi montada na sala do Luciano, que ligava para cada pessoa intimando para participar da chapa, sem chance de dizer não. Não haverá outra chapa, por que os funcionários tem medo de retaliação.
Talvez alguém tenha esquecido de informar para o Mounir e ao Luciano que a ditadura já acabou.
Tem muito mais, mas vamos para por aqui.
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