Havana, Cuba. Foto de Tarso Cabral Violin
Durante esta semana o Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão mostrará reportagens sobre Cuba.
Não, a Rede Globo não mostrará as praias caribenhas maravilhosas de Cuba, ideais para banho e mergulho.
Não, a rede de TV que se beneficiou da ditadura militar não mostrará que não existem miseráveis em Cuba.
Não, a rede de TV que ainda domina a opinião pública no Brasil não mostrará que a maioria dos cubanos são felizes com o regime cubano.
Não, a rede de TV do BBB, Ana Maria Braga, Luciano Huck, Xuxa, Zorra Total, Galvão Bueno e Malhação não mostrará que Cuba era o Cassino e o prostíbulo dos Estados Unidos antes da revolução socialista comandada por Che Guevara e Fidel.
Não, a rede de TV do ex-Cidadão Kane brasileiro, Roberto Marinho, não mostrará as dificuldades que os cubanos passam principalmente por causa do embargo econômico dos EUA há 50 anos.
Não, o jornal comandado por Willian Bonner não mostrará que o país de Fidel Castro é ainda a segunda potência esportiva de toda a América.
Não, a rede de TV que vem perdendo força não mostrará a maravilhosa música cubana.
Não, o JN não mostrará o quanto Havana é maravilhosa para os turistas de todo o mundo, por questões arquitetônicas, históricas e de lazer.
Não, a Rede Globo não mostrará que os cubanos têm saúde e educação universal e gratuita, e que lá não se morre em filas de hospitais por causa de falta de pagamento ou por não se ter plano de saúde..
Não, o JN não mostrará que em Cuba não há meninos de rua, abandonados.
Não, o JN não mostrará que o charuto cubano continua sendo o melhor do mundo, assim como seu run e outras bebidas.
O Jornal Nacional mostrou nesta segunda-feira uma reportagem de uma cubana que viajou para os EUA para trabalhar, mas que voltou para Cuba com mantimentos, e suas dificuldades. Falta seriedade na reportagem. Será que apenas uma cubana é parâmetro? E mesmo assim vi uma pessoa com saúde, com uma família com saúde, uma casa digna, mas mostra que ela tem dificuldades para ser atendida por dentistas, e que há necessidade de levar algum mantimento de presente para ser atendida no hospital. Mas será que essa corrupção é maior do que existe em países capitalistas centrais e periféricos?
É claro que há problemas no regime cubano. É claro que foi um exagero Cuba seguir o modelo soviético-stalinista de proibir qualquer atividade privada, assim como exageros nas limitações de alguns direitos individuais. É claro que há dificuldades em Cuba como a falta de carne bovina (suprida pela carne de porco) e de bens e equipamentos não fabricados na ilha.
Mas a grande maioria dos seus problemas econômicos se deve ao embargo estadunidense e, é claro, as dificuldades naturais que tem uma micro-ilha como Cuba. Não é possível que queiramos obrigar um regime de cima para baixo na ilha. Não há como aceitar que os cubanos sigam uma democracia liberal que os EUA pretendem impingir a outras sociedades orientais. E será que pode existir apenas esse modelo socialista?
E é uma ignorância (ou má-fé) que alguém queira sempre falar em Cuba quando qualquer um venha a defender um Estado Social, muitas vezes de modelo europeu de Welfare State, e não necessariamente socialista.
Mas é claro que a Rede Globo, a revista Veja e a classe dominante têm ojeriza quando se fala em direitos sociais universais e gratuitos. Ainda bem que na última década no Brasil ficou demonstrado que o livre mercado, o neoliberalismo, o Consenso de Washington, não são capazes de fazer um Brasil e um mundo mais justo, e que políticas estatais ainda são essenciais para a ordem econômica e social, principalmente em países menos desenvolvidos. Precisamos de um outro Estado e de uma outra sociedade civil, mas com certeza não o Estado e sociedade civil idealizados pelos neoliberais durante a década de 90 do século passado.
Infelizmente vou ter que assistir o JN nesta semana. Espero contribuições dos leitores do Blog do Tarso.
Praça da Revolução, Havana. Foto de Tarso Cabral Violin