Tem razão quem se revolta – Renato Janine Ribeiro

 

 Hoje na Folha de S. Paulo

“On a raison de se révolter”, dizia o filósofo francês Jean-Paul Sartre no fim da vida, quando, depois de maio de 1968, se cansou de esperar que o Partido Comunista se consertasse e fez causa comum com os maoistas. Não é fácil traduzir a frase de Sartre. Seria algo como “tem razão quem se revolta”.

Mas qual razão, quanta razão? Eu diria que é a razão do sintoma: sente-se a dor, procura-se a infecção, mas queixar-se não é diagnosticar a doença, menos ainda curá-la. O último dia 15 de março foi isso. A queixa é correta, o tecido social está sofrendo, mas diagnóstico e prognóstico ficaram pela metade.

A queixa: não se aguenta mais a corrupção. O caso da Petrobras mostra uma crise grave em uma de nossas maiores empresas. Pior, uma empresa que pertence a todos nós. Muito resta a explicar, da falta de controle à pura indecência. Como o PT foi entre tolerante e partícipe do processo, ele se torna a bola da vez.

A dor: como fizeram isso com nosso país? E o erro: fizeram, quem? Isso, o quê? Nosso, de nós, quem? Aqui está o problema.

Quem “fizeram” é só o PT ou, mais que ele, o PP ou, ainda mais, um sistema político que se acostumou a ser eficiente pela via da desonestidade? Porque há um subtexto em nossa sociedade que diz: resolva o problema, “não quero saber como”.

Não queremos saber como funcionam as coisas, desde que elas funcionem. Vejam o que chamamos de “segurança pública”. Ela depende muito da violência policial contra inocentes. Não queremos saber a que custo reina alguma paz em nossos bairros. O preço dessa paz é a violência contra três Ps: pobres, pretos e putas.

Ainda que insuficiente, a eficiência que o Estado consegue deve-se, em vários casos, ao “não quero nem saber”. Só que agora está emergindo o iceberg inteiro. Nós nos acostumamos ao “por fora bela viola, por dentro pão bolorento”; fingíamos que não havia bolor, mas ele está aparecendo. Tanto no Metrô de São Paulo como na Petrobras.

O avanço da democracia desnuda esse preço, esse bolor. Há uma reação tola: não quero saber do preço. Um dos modos dessa reação é carimbar um culpado bem afastado de nós. O PT cumpre hoje esse papel de demônio, que já foi de Getúlio Vargas. Assim se afasta de nós esse cale-se. Somos poupados.

As manifestações do dia 15 de março, legítimas na medida em que “tem razão quem se revolta” (mas alguma razão, não toda), caíram no engodo de construir um Outro demoníaco, aquele que acabou com o que era doce. O passado fica como uma idade, senão de ouro, pelo menos de prata.

Um teste simples: se alguém contesta os males atuais em nome de um passado que teria sido melhor, essa pessoa está pelo menos mal informada. Nossa história tem podres que mal começamos a enxergar.

O presente pode parecer horrível, mas só porque expôs a chaga purulenta. O bom que era doce se assentava em mentiras. Aumentaram as mentiras? Ou, na sociedade da informação, é mais fácil descobri-las do que antes? O mensalão do DEM teria sido exposto, não fosse uma microcâmera escondida? Delações premiadas funcionariam se os cúmplices mantivessem a lealdade dos mafiosos, que morrem, mas não falam?

Sem uma força-tarefa como a da Operação Lava Jato, teriam sido pegos? Quem deve teme. Por que tantos querem que a investigação foque só o PT? A apuração não deve ser ampla, geral e irrestrita?

Tratar o sintoma não é a solução. Meias medidas são meros paliativos. É preciso chegar às causas. Venceremos a corrupção quando ela parar de servir de pretexto político de um lado contra o outro e for mesmo repudiada pela maior parte da população. Não é o caso –ainda.

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9 comentários sobre “Tem razão quem se revolta – Renato Janine Ribeiro

  1. Coluna do Requião Filho: “Antes de criticar Dilma, o PSDB tem que expulsar Richa”
    26 MAR 2015 – 07:29 11 Comentários

    requiaofilho_dilma_richa.jpgO cenário nacional anda meio agitado. O PSDB na oposição neste segundo mandato de Dilma resolveu pegar no filão de comparar a campanha com a realidade… Ou seja, está tripudiando sobre as coisas que Dilma falou e não fez ou que falou e fez ao contrário. PSDB diz que Dilma mente e que isto é inaceitável.

    O PSDB nacional não deve conhecer o Paraná! Uma das peças tem uma atriz que diz: “Nada pior do que uma pessoa falar uma coisa e fazer outra. Principalmente se essa pessoa for a presidente da República”. E se esta pessoa for o governador do Paraná? Pode mentir?

    No Paraná as mentiras são muitas. No Paraná os escândalos envolvendo o governador e sua trupe são inúmeros. O PSDB diz que a diferença entre a campanha e a prática é imperdoável. Vão pedir a expulsão do Carlos Alberto Richa? O PSDB critica e afirma que Lula quando diz não saber de nada é inaceitável, aqui o governador sempre é pego de surpresa e nunca sabia de nada.

    O PSDB diz que o “BRASIL MERECE SABER A VERDADE”… Oras, o “PARANÁ MERECE SABER A VERDADE”.

    O Carlos Alberto Richa dizia que “o melhor estava por vir” e depois das eleições descobrimos que o Estado está quebrado.

    O governador MENTIU, COMETEU ESTELIONATO ELEITORAL, pois um grupo de trabalho da Fazenda Estadual fez um relatório das contas da gestão em 2014 e afirmou antes da campanha que a crise financeira já estava estabelecida.

    Depois de muito prometer na campanha hoje é só arrocho fiscal e mensagens que são conhecidas pelos paranaenses como pacotaços de maldade.

    O PSDB deveria expulsar Carlos Alberto e então, só assim, “poderia” agredir a presidente. Uma vez que todas as acusações feitas a Dilma cabem como uma luva ao Carlos Alberto, o governador com a pior avaliação da história do Paraná.

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  2. Filósofo querendo aliviar o lado dos companheiros…o mesmo MI MI MI …mas o FHC tb fez…o Maluf também só eu sou pego…? mi mi mi……o PT, como partido da bandeira ética e da mudança… acabou, Tarso, esquece.

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  3. Se o Levy fosse meu funcionário estaria na rua ao dar um discurso daqueles! Dilma mostra o quão fraca eh ao mantê lo no ministério

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