Blog do Emir Sader, no Carta Maior
Entre tantas frases estimulantes e provocadoras que as rebeliões populares no mundo árabe e agora na Europa, essencialmente protagonizada por jovens, fizeram ecoar pelo mundo afora, a que mais nos incomoda – com toda razão – é aquela que diz: “E quando os jovens saíram às ruas, todos os partidos pareceram velhos.”
Aí nos demos conta – se ainda não tínhamos nos dado – da imensa ausência da juventude na vida política brasileira. O fenômeno é ainda mais contrastante, porque temos governos com enorme apoio popular, que indiscutivelmente tornaram o Brasil um país melhor, menos injusto, elevaram nossa auto estima, resgataram o papel da política e do Estado.
Mas e os jovens nisso tudo? Onde estão? O que pensam do governo Lula e da sua indiscutível liderança? Por que se situaram muito mais com a Marina no primeiro turno do que com a Dilma (mesmo se tivessem votado, em grande medida, nesta no segundo turno, em parte por medo do retrocesso que significava o Serra)?
A idade considerada de juventude é caracterizada pela disponibilidade para os sonhos, as utopias, a rejeição do velho mundo, dos clichês, dos comportamentos vinculados à corrupção, da defesa mesquinha dos pequenos interesses privados. No Brasil tivemos a geração da resistência à ditadura e aquela da transição democrática, seguida pela que resistiu ao neoliberalismo dos anos 90 e que encontrou nos ideais do Fórum Social Mundial de construção do “outro mundo possível” seu espaço privilegiado.
Desde então dois movimentos concorreram para seu esgotamento: o FSM foi se esvaziando, controlado pelas ONGs, que se negaram à construção de alternativas, enquanto governos latino-americanos se puseram concretamente na construção de alternativas ao neoliberalismo; e os partidos de esquerda – incluídos os protagonistas destas novas alternativas na América Latina -, envelheceram, desgastaram suas imagens no tradicional jogo parlamentar e governamental, não souberam renovar-se e hoje estão totalmente distanciados da juventude.
Quando alguém desses partidos tradicionais – mesmo os de esquerda – falam de “politicas para a juventude”, mencionam escolas técnicas, possibilidades de emprego e outras medidas de caráter econômico-social, de cunho objetivo, sem se dar conta que jovem é subjetividade, é sonho, é desafio de assaltar o céu, de construir sociedades de liberdade, de luta pela emancipação de todos.
O governo brasileiro não aquilata os danos que causam a sua imagem diante dos jovens, episódios como a tolerância com a promiscuidade entre interesses privados e públicos de Palocci, ou ter e manter uma ministra da Cultura que, literalmente, odeia a internet, e corta assim qualquer possibilidade de diálogo com a juventude – além de todos os retrocessos nas políticas culturais, que tinham aberto canais concretos de trabalho com a juventude. Não aquilata como a falta de discurso e de diálogo com os jovens distancia o governo das novas gerações. (Com quantos grupos de pessoas da sociedade a Dilma já se reuniu e não se conhece grandes encontros com jovens, por exemplo?)
Perdendo conexão com os jovens, os partidos envelhecem, perdem importância, se burocratizam, buscam a população apenas nos processos eleitorais, perdem dinamismo, criatividade e capacidade de mobilização. E o governo se limita a medidas de caráter econômico e social – que beneficiam também aos jovens, mas nãos os tocam na sua especificidade de jovens. Até pouco tempo, as rádios comunitárias – uma das formas locais de expressão dos jovens das comunidades – não somente não eram incentivadas e apoiadas, como eram – e em parte ainda são – reprimidas.
A presença dos jovens na vida publica está em outro lugar, a que nem os partidos nem o governo chegam: as redes alternativas da internet, que convocaram as marchas da liberdade, da luta pelo direito das “pessoas diferenciadas” em Higienópolis, em São Paulo, nas mobilizações contra as distintas expressões da homofobia, e em tantas outras manifestações, que passam longe dos canais tradicionais dos partidos e do governo.
Mesmo um governo popular como o do Lula não conseguiu convocar idealmente a juventude para a construção do “outro mundo possível”. Um dos seus méritos foi o realismo, o pragmatismo com que conseguiu partir da herança recebida e avançar na construção de alternativas de politica social, de politica externa, de politicas sociais e outras. Os jovens, consultados, provavelmente estarão a favor dessas politicas.
Mas as mentes e os corações dos jovens estão prioritariamente em outros lugares: nas questões ecológicas (em que, mais além de ter razão ou não, o governo tem sistematicamente perdido o debate de idéias na opinião pública), nas liberdades de exercício da diversidade sexual, nas marchas da liberdade, na liberdade de expressão na internet, na descriminalização das drogas leves, nos temas culturais, entre outros temas, que estão longe das prioridades governamentais e partidárias.
Este governo e os partidos populares ainda tem uma oportunidade de retomar diálogos com os jovens, mas para isso tem assumir como prioritários temas como os ecológicos, os culturais, os das redes alternativas, os da libertação nos comportamentos – sexuais, de drogas, entre outros. Tem que se livrar dos estilos não transparentes de comportamento, não podem conciliar nem um minuto com atitudes que violam a ética publica, tem que falar aos jovens, mas acima de tudo ouvi-los, deixá-los falar. Com a consciência de que eles são o futuro do Brasil. Construiremos esse futuro com eles ou será um futuro triste, cinzento, sem a alegria e os sonhos da juventude brasileira.

Que texto maravilhoso! Razão e emoção. Falamos tanto em em futuro para as gerações vindouras e esquecemos ou não sabemoso mais importante: o diálogo com o novo que já está ai, em nossa frente.
CurtirCurtir
INFELIZMENTE MEU CARO, OS JOVENS TÊM SIDO EDUCADOS PARA FICAR SILENTE. NÃO HÁ QUALQUER ESTÍMULO, NÃO HÁ QUALQUER ESPAÇO PARA OS JOVENS SE MANIFESTAREM. AS REDES SOCIAIS SÃO, DENTRE OUTRAS EXCESSÕES, LUGARES ONDE OS JOVENS PODEM MANIFESTAR-SE LIVREMENTE.
A EXEMPLO: NA PRÓPRIA UNIVERSIDADE POSITIVO ONDE O SR. LECIONA, OS ALUNOS ESTÃO LIMITADOS. NÃO HÁ QUALQUER APOIO A ALGUMA UNIÃO DOS ESTUDANTES. AO INVÉS DE INCENTIVAR O TROTE RESPONSÁVEL, COM CARACTERISTICAS INCLUSIVE EDUCATIVAS E SOCIAIS, A UP PROÍBE SUMARIAMENTE.
EU ACHO MUITO INTERESSANTE, NUMA ERA EM QUE SE REPENSA TANTO A LIBERDADE. QUE SE QUESTIONA TANTO OS EFEITOS DO PROIBICIONISMO. UMA UNIVERSIDADE, SE UTILIZAR DE MEIOS DIGAMOS NO MÍNIMO ARCAICOS COMO IMPOR SUSPENSÃO, OU ATÉ MESMO LIMITAR AS ENTRADAS DA UNIVERSIDADE, PARA CONTROLAR UMA SITUAÇÃO QUE EM MUITOS LUGARES SE TORNOU PROBLEMA, DEVIDO À ISENÇÃO DAS INSTITUIÇÕES NA PARTE EDUCATIVA DOS TROTES.
MAS ISSO NÃO VEM AO CASO.
O QUE QUERO DIZER, É QUE TEM AÇÕES DE JOVENS POR TODOS OS LADOS, AÇÕES SOCIAIS, MANIFESTAÇÕES “VIA” REDES SOCIAIS E ATÉ MESMO PEQUENAS PASSEATAS.
MAS A GRANDE QUESTÃO É QUE TUDO ISSO É ABAFADO, COMO FORMA DE EVITAR PROBLEMAS. JÁ QUE NA VISÃO DA MAIOR PARTE DOS INDIVÍDUOS QUE ESTÃO NO PODER, OS JOVENS DEVEM APENAS SER CONTROLADOS E “EDUCADOS”, AFINAL QUANDO A CRIANÇA SAI DO OLHO DO PAI E NÃO FAZ MUITO BARULHO, COISA BOA NÃO É!
É ISSO, O QUE FALTA NÃO É MANIFESTAÇÃO, REBELDIA OU VONTADE NOS JOVENS. O QUE FALTA SÃO OUVIDOS PARA OS QUE ESTÃO NO PODER.
HÁ UMA DISPARIDADE MUITO GRANDE ENTRE O PENSAMENTO DE QUEM ESTÁ NO PODER HOJE E SOBRE O PENSAMENTO DOS JOVENS. O PROBLEMA É QUE SUPOSTAMENTE QUEM ESTÁ ERRADO É O JOVEM. E ISSO SÓ VAI MUDAR QUANDO ESSES JOVENS CHEGAREM AO PODER, O QUE OCORRERÁ DAQUI ALGUNS ANOS, DEVIDO AO FUNCIONAMENTO NATURAL DAS COISAS NA POLÍTICA.
OU SEJA, O PENSAMENTO DO JOVEM VAI SER O PENSAMENTO DE QUEM ESTÁ NO PODER, MAS APENAS NO FUTURO. CONFORME VEM OCORRENDO, CERTO?
APENAS OS VETERANOS, QUE ESTÃO NO PODER PODEM, DANDO ESPAÇO AOS JOVENS, ABRIR CAMINHO PARA UMA EVOLUÇÃO MAIS RÁPIDA.
POIS O PROBLEMA SÃO OS OUVIDOS COMO JÁ HAVIA FALADO, MAS ESSES INDIVÍDUOS “CRIAM” OUVIDOS QUANDO A MANIFESTAÇÃO É VIOLENTA.
A SEDE DE SANGUE PARA VER MUDANÇA, ESTÁ NOS MAIS VELHOS, A NOVA GERAÇÃO É MUITO MAIS PACÍFICA, COM EXCEÇÕES CLARO!
MAS SÓ SE CRIAM OUVIDOS, QUANDO A VIOLÊNCIA PREDOMINA E O PIOR ACONTECE, DAÍ ELES EXCLAMAM: ESSES JOVENS SÃO REBELDES!!
CONCLUINDO, NÃO ADIANTA DIZER QUE OS JOVENS NÃO SE MANIFESTAM. SE AS SUAS MANIFESTAÇÕES SÓ FOREM OUVIDAS QUANDO OS PROTESTOS SE TORNAREM VIOLENTOS.
AS MANIFESTAÇÕES PACÍFICAS E AS AÇÕES DOS JOVENS OCORREM O TEMPO TODO, SÓ NÃO TEM NINGUÉM PARA FALAR SOBRE ISSO. APENAS PARA RECLAMAR.
E O SILÊNCIO MANTÉM O SILÊNCIO, E OS JOVENS CONTINUAM SEM TER OUVIDOS QUE LHE ESCUTEM. E, PORTANTO FALAM MENOS.
E AS MUDANÇAS CONTINUAM LENTAS E ASSIM SUCESSIVAMENTE… É PRATICAMENTE UM CÍRCULO VICIOSO.
UM ABRAÇO.
CurtirCurtir
Depois de dois anos militando no movimento estudantil no meu curso e na minha universidade, em contato com diversas forças e correntes ideológicas (anarquistas, PT, PSOL, PSTU, PC do B, PDT), me parece uma piada sádica de extremo mal gosto ver um apoiador do governo se interrogar onde está a rebeldia da juventude. Existe por que se revoltar? Não nos dizem que o Brasil vai bem? Que está tudo bem com toda a reforma universitária e que esse governo é o melhor que poderíamos ter? Não castram toda a sorte de rebeldia com a maldita ideologia da governabilidade?
Por acaso, o senhor não sabe o que fazem na UNE? O senhor não sabe como atua a base governista jovem nas universidades?
CurtirCurtir