A MP dos Portos afeta capacidade de planejamento do Estado

A MP ora aprovada parece cometer o grande erro de entregar inconstitucionalmente à iniciativa privada a possibilidade de ser proprietária de terminais portuários.

A regra geral, segundo nossa carta Magna, dever ser a de regime público de prestação de serviços portuários, em que se transfere a execução ao particular mantendo-se a titularidade dos mesmos na mão do Estado.

A MP cria competição entre portos públicos e privados em evidente desfavorecimento competitivo dos primeiros.

Se cuidados rigorosos não forem adotados, perderão o interesse publico e a capacidade de planejamento do Estado.

Em mais um setor o governo encaminha soluções demasiadamente privatistas. As futuras gerações arcarão com as nefastas consequências.

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Por Pedro Estevam Alves Pinto Serrano e Christian Fernandes Gomes da Rosa*, no GGN

É certo que os serviços portuários têm grande relevância para o desenvolvimento econômico e social brasileiro, mas a decisão acerca dos meios mais adequados para sua organização ainda está longe de se mostrar algo consensual.

Todo o debate a respeito da Medida Provisória 595/2012 deixou claro que há muita contraposição, nos distintos setores sociais e dentre os agentes e grupos econômicos, quanto aos parâmetros que devem pautar os investimentos na atividade. Continuar lendo

Piada-pronta: Beto Richa virou blogueiro

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Como informou o Blog do Esmael Morais, o governador Beto Richa (PSDB), que persegue e censura blogueiros, virou blogueiro. A cara-de-pau não tem limites, é o “Blog do Beto”. Além de perseguir e censurar, Beto apoiou o ex-prefeito derrotado Luciano Ducci (PSB), cujo grupo político quer tirar do autor do Blog do Tarso quase R$ 200 mil em multas e indenização. Beto também apoia e tem o apoio de um deputado federal truculento que já ameaçou fisicamente e judicialmente o autor do Blog do Tarso.

Richa na verdade quer aparecer. Viu que está caindo nas pesquisas e que a tendência é perder em 2014 ainda no primeiro turno para Gleisi Hoffmann (PT) e Roberto Requião (PMDB), como ocorreu com Luciano Ducci em Curitiba.

Será que após a criaçao do movimento dos blogueiros progressistas, agora vai ser criado o grupo dos blogueiros neoliberais-conservadores?

Por favor 2014, chega logo!

OAB/PR aponta caos nas prisões do Paraná. Governo Beto Richa diz que é mentira

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Matéria da Gazeta do Povo de hoje, do jornalista Raphael Marchiori, informa que um relatório da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná – OAB/PR concluiu que 80% das unidades prisionais do sistema paranaense não oferecem condições de ressocialização aos presos e violam princípios dos Direitos Humanos.

“Solitárias” sem janelas e com apenas orifícios para entrada de ar utilizadas para ampliação de vagas; superlotação em carceragens de delegacias policiais; agentes penitenciários mal treinados e em baixo número, sendo que alguns são dependentes químicos com tratamento financiado por colegas, sem apoio oficial do governo estadual; falta de serviços de saúde; penitenciárias recém inauguradas por Beto Richa com a grande maioria dos presos sem atividades laborais; poucos presos estudando; celas às escuras e com esgoto entupido; poucas roupas de camas, sendo lavadas e secadas no espaço em que detentos dormiam.

O professor e advogado Maurício Kuehne, diretor do Departamento de Execução Penal (Depen), representante do governo Beto Richa (PSDB), disse que o relatório da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR é tendencioso e não retrata a verdade.

Entendo que o governo Beto Richa está precvarizando os presídios para que haja justificativa para a privatização dos presídios. O governador ordenou à Assembleia Legislativa que aprovasse lei nesse sentido, já aprovada no ano passado, mas totalmente inconstitucional, pois delega o Poder de Polícia e terceiriza as atividades-fim dos estabelecimentos prisionais.

Por favor 2014, chega logo!

Estranho nacionalismo

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Por ANDRÉ SINGER, hoje na Folha de S. Paulo

A MP dos Portos, aprovada depois de impressionante guerra político-empresarial no Congresso, deverá marcar o governo Dilma, talvez comprometendo de maneira indelével o caráter nacional-desenvolvimentista que a presidente procurou imprimir aos anos iniciais de seu mandato.

Em primeiro lugar, porque a orientação do projeto é privatista, embora o Executivo não goste que se fale em privatização. É verdade que os portos já estavam parcialmente em mãos privadas desde a reforma de 1993. No entanto, em lugar de restabelecer o primado do Estado numa área vital, a 595 abriu o espaço dos negócios portuários para outras empresas (as quais também já operavam no setor, porém em caráter, digamos, provisório).

Daí a disputa que se estabeleceu na Câmara dos Deputados nesta semana. Os que já estavam não queriam sair. Os “de fora” queriam substituir os antigos donos do pedaço.

Como se trata de interesses que envolvem bilhões de reais, vastos recursos foram usados para mobilizar parlamentares de um lado e de outro. Empresários como Daniel Dantas e Eike Batista e conglomerados como Odebrecht e Oetker (que detém a companhia de navegação Hamburg Süd) foram alguns dos nomes famosos que circularam nas notícias da semana. Ou seja, além de aumentar a privatização dos portos, a MP acelerou a galopante privatização do Legislativo brasileiro.

Em segundo lugar, a pretexto de aumentar a concorrência, o novo marco regulatório parece ter dado a alguns gigantes econômicos benefícios de tal ordem que, no médio prazo, os portos estatais irão quebrar. É o que afirmaram o senador Roberto Requião (PMDB-PR) e, por incrível que pareça, a nota técnica da liderança do PT. Isso explica por que o partido votou em bloco a favor da medida, mas com defesas tímidas do conteúdo, apelando para uma vaga ideia de modernização, tão a gosto dos liberais.

Ao aceitar o argumento neoliberal de que só o mercado é capaz de controlar o mercado, deixou-se de lado a alternativa de reconstruir a capacidade pública para ordenar um setor-chave da economia brasileira. Em outras palavras, aprofundando o viés liberalizante da política iniciada na década de 1990, Dilma pode ter enterrado o sonho de recuperar a soberania nacional em terreno estratégico.

Ainda que possa estar satisfeita com a vitória de última hora, não creio que o instinto desenvolvimentista da presidente a deixe dormir em paz com a perspectiva acima, que o grande capital evidentemente comemora. Resta ver se, pelo menos, tantas concessões irão trazer os frutos esperados em matéria de crescimento do PIB. A conferir.

ANDRÉ SINGER escreve aos sábados na Folha.

avsinger@usp.br