PM na USP? Não!

 

Carlos Latuff

A USP deve manter o convênio com a Polícia Militar?

NÃO

Sábado na Folha de S. Paulo

Polícia para quem precisa

HENRIQUE S. CARNEIRO

A crítica à Polícia Militar na USP se refere a sua utilização contra estudantes ou contra grevistas.
Se há um agressor, estuprador ou assaltante armado, a PM será acionada como em qualquer outro crime. Mas revistar estudantes, dar buscas em centros acadêmicos ou prender jovens que fumam maconha em gramados do campus é não só dar destinação errada para a PM como extrapolar suas supostas funções de proteger a comunidade.
No que se refere ao crime na USP, pretexto para o uso da PM contra os estudantes, se sabe que a melhor proteção é a própria coletividade atenta e uma guarda bem treinada, bem equipada e com confiança comunitária. Em geral, não há crimes contra a pessoa ou contra o patrimônio à vista de todos, em lugares bem iluminados e cheios de gente.
Por isso, em lugares em que há fluxo de estudantes, a vigilância ostensiva não é tão necessária, mas, sim, em lugares ermos ou nas entradas e saídas da universidade.
A polícia priorizar a repressão ao uso de maconha é errado, porque isso a torna uma patrulha de costumes anti-estudantil.
Em breve, poderão prender também as fotocopiadoras ou quem vender cerveja em festas? Se o objetivo maior deve ser a manutenção da tranquilidade social, a intervenção da polícia não pode ser o agente que venha justamente provocar a ruptura dessa paz.
Se houver consumo indevido de drogas ou de álcool que possa atrapalhar a terceiros ou atividades didáticas, cabe à própria comunidade universitária adotar regras e mecanismos de fiscalização que coíbam esse tipo de prática.
Até mesmo um cigarro de tabaco aceso em locais fechados é proibido e a comunidade deve, corretamente, buscar impedir quem fume um cigarro não respeitando o interesse coletivo. Ou devemos deixar a PM resolver isso também?
O uso de cigarros ao ar livre em lugar retirado, seja de tabaco, de cravo ou de maconha, não afeta ninguém além dos seus usuários. É uma conduta tipificada na teoria do direito como isenta de qualquer princípio de lesividade. O bem-estar público não é afetado. Ninguém tem ameaçados os seus direitos nem há nenhuma violência em curso.
A própria legislação vigente p já entende que o uso de drogas em si não deve ser penalizado.
O uso de drogas por jovens não pode ser tratado como um caso de polícia. Menos ainda num ambiente escolar, onde o diálogo e a busca de soluções negociadas e não violentas devem ser uma parte constituinte do projeto pedagógico.
A melhor segurança é uma guarda universitária modelo, bem equipada e não terceirizada.
A terceirização compactua com trabalho superexplorado e mal qualificado e afasta os serviços de segurança da relação orgânica com a comunidade. Um guarda funcionário da universidade conhece melhor a comunidade e pode melhor ajudar a dirimir problemas, assim como identificar as ameaças à segurança e constituir uma rede de inteligência, comunicação, proteção e confiança comunitária.

HENRIQUE S. CARNEIRO é professor doutor do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

4 comentários sobre “PM na USP? Não!

  1. Até concordo com o ponto de vista exposto, mas discordo do circo montado pelas bonecas de porcelana que acham que podem fazer tudo o que querem e quebram se forem tocadas.

    A mania do brasileiro de criar filhos e deixar que o Estado os eduque já está dando frutos. E esses frutos são podres.

    Precisamos de mudanças drásticas na nossa forma de agir, de pensar, de criar nossos filhos. Uma criança de 6 anos precisa ter um celular? Tanto quanto um aluno universitário precisa fumar maconha…

    Se essa turma ouvisse mais “nãos” de seus pais, saberia diferir o que pode e o que não pode ser feito em público e o que pode e não pode ser levado para debate a nível de manifestação como eles levaram. Presos políticos? Tenha santa paciência! 😉

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  2. Achei meio nada ver, você está cometendo o mesmo erro das pessoas manipuladas pela mídia colocando o uso de drogas em primeiro plano. Ainda mais tratando com displicência o uso de drogas lá. A questão da PM na Usp é outra. Não tem a ver com maconha e sim com a liberdade de expressão, experiências estudantis e ideológicas, para que não aja repressão, quando a PM julgar o caráter ideológico subversivo.

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    • Mas que conversinha anos 60…..o problema ali é simplificado. Foi por vontade de fumar maconha mesmo. Não há outra ideologia por trás.

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  3. “ou prender jovens que fumam maconha em gramados do campus é não só dar destinação errada para a PM como extrapolar suas supostas funções de proteger a comunidade.”

    Ah então campus agora é um lugar pra fumar maconha? E desde quando é absurdo prender alguém por posse de drogas ilícitas?
    Eu acho absurdo generalizar, falar que só tem maconheiro e todas as asneiras que falam na mídia. Mas acho errada essa postura de não querer a PM no Campus, como se fosse uma propriedade privada.

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