Tá legal, aceito o argumento – Xixo

xixotarso

Xixo e Tarso Cabral Violin  em 26 de outubro de 2014, quando acreditávamos na Democracia representativa

Tá legal, aceito o argumento.

Nenhum movimento, nenhuma transformação, se faz contra a maioria do povo. Talvez o maior equívoco da esquerda nos anos 70 tenha sido o vanguardismo. Jovens bem intencionados acreditaram que, vanguarda, indicariam o caminho e o povo os seguiria. Deu no que deu. E o isolamento político foi a menor das consequências.

A população brasileira foi hegemonizada pela Direita reacionária, cristã e careta. A maioria da população, mesmo composta de setores que foram beneficiados pelas políticas públicas (estatais, petistas, redistributivistas), decidiu votar na direita estadofóbica, demofóbica, homofóbica, neoliberal e meritocrata.

Se hoje forem levados à decisão popular, em democracia direta, por plebiscito, acho que ninguém teria dúvida como o povo que votou ontem decidiria sobre temas como   Pena de Morte, Maioridade Penal, união civil de pessoas do mesmo sexo, proteção a setores vulneráveis, entre outros. Consultando quem elegeu aquele imbecil em São Paulo, o Crivela no Rio, o Greca em Curitiba ou o ACM em Salvador como votariam quanto às cotas ou às tímidas políticas ambientais dos últimos doze anos? Depois do massacre midiático se alguém propusesse fechar o congresso “para não haver mais políticos” como acham que votariam o “povo de deus”, as “pessoas de bem” e a mediocrizada classe média noveleira ?

A Direita concursada, mesmo sabendo que com os neoliberais no governo teriam arrocho nos vencimentos e teriam que trabalhar muitos anos a mais para se aposentar, não teve dúvidas em apoiar  o Golpe. E apoiaria novamente, votou no Dória e levou para o segundo turno apenas candidatos que jamais representariam seu interesses concretos. Os pequenos comerciantes, prestadores de serviços sabiam que ao apoiar o Golpe haverá concentração de renda nas elites, reduzindo suas clientelas e, consequentemente, suas rendas. Mas não apenas apoiaram o golpe como votaram em golpistas nas eleições municipais.

O melhor argumento é o resultado das urnas no segundo turno. Pela segunda vez, durante o mesmo mês de outubro, a população fez uma escolha por valores antagônicos àqueles de esquerda.

A Direita jamais aceitou quando o Nordeste escolheu Lula e o PT. A nova direita, mesmo aquela anti-evangélica que votou no Freixo, repete o preconceito dizendo “não aceitar” o resultado eleitoral, repetindo (como que contaminados por uma espécie de aecismo) um possante “não me representa” ou, bolsonaricamente, destilando ódio, no caso, aos “pobres ignorantes” e aos “crentes porque são pobres e manipulados”. É a mesma base social que já votou na Marina e que, nos últimos meses, se orgulhou de ser “oposicionista” repetindo bordões moralistas. Pensam que são de esquerda, mas logo se bandearão.

Não gostamos do resultado, mas é certo que a maioria da população escolheu a Direita, tornou-se anti-esquerda. O PSOL, apesar de todo seu esforço para destruir o PT pretendendo disputar seus escombros, continua sendo eleitoralmente irrelevante.

Não há o que possamos fazer agora para mudar a percepção que a população tem a respeito da esquerda, do PT, ou de seus aliados. O povo decidiu experimentar governos de Direita. A população, sem saber, se tornou fascista, apoia valores conservadores, caretas, profundamente cristãos, anti-comunistas e discriminatórios. Nada que digamos agora mudará esse quadro.

Há que esperar até que a maioria do povo, sofrendo os efeitos das políticas neoliberais, experimentando as consequências da ausência de políticas públicas para coletivos vulneráveis, realizando a destruição meio-ambiental inerente ao capitalismo sem limites, sentindo na pele o que significa a terceirização, o congelamento dos gastos sociais (PEC 241), e os malefícios do “governo dos juízes”, sinta saudades do que teve de 2003 a 2016.

Por enquanto não há o que fazer.

Quem puder deve aproveitar esse período (até que a maioria se dê conta de seu papel de trouxa) para tentar ser feliz, conviver mais em família, desfrutar momentos com amigos, praticar esportes, ler bons livros, essas coisas prosaicas que, militantes de esquerda, sempre postergamos.

Sabíamos que “não há bem que sempre dure”. A era das trevas acaba de começar, mas virá cedo ou tarde um renascimento e um iluminismo. Saibamos que “não há mal que nunca se acabe”.

Seguindo o conselho do poeta Paulinho da Viola, aceitando o argumento, devemos fazer “como o velho marinheiro que durante o nevoeiro leva o barco devagar”.

Tenho uns 50 livros na fila, há uma centena de filmes que ainda não tive tempo de ver, devo atenção aos meus amigos e à minha família, não terei tédio enquanto espero que as tais “condições objetivas” estejam mais propícias e que, enfim, dissipado o nevoeiro, as pessoas voltem a escutar o que a esquerda tem a dizer.

Wilson Ramos Filho (Xixo) – advogado, professor de Direito do Trabalho da UFPR, doutor em Direito

20 comentários sobre “Tá legal, aceito o argumento – Xixo

  1. Quando o povo vota na esquerda, a esquerda diz que o povo é bom, sabe o que quer e sabe votar. Quanto escolhem dar um banho de direita, a esquerda diz que o povo é alienado, que foi manipulado e que não sabe o que faz. Por isso a esquerda tacanha nunca consegue nada.

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  2. Sobre corrupção nenhuma linha. Quanta presunção vinda de uma pessoa só. Eu sou a verdade e a vida, quem não está comigo não presta. Muito bom. Não admira que a esquerda tenha levado uma surra.

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  3. A era das trevas começando, mas o articulista sugere que a esquerda vá ler um livro, descanse e fique com a familia. Não entendi. Joguei a toalha pode ser o nome desse artigo.

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  4. Que bom que você pode ler livros e ficar confortavelmente aguardando. Os 12 milhões de desempregados deixados por Dilma e pelo PT não podem ter os mesmos privilégios.

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  5. Mas há,Violin, no corpo de uns poucos combatentes, um instrumento poderoso que está infinitamente acima de qualquer sabotagem, seja de políticos nefastos, ou metódica e sistematicamente de mídias subservientes: o pensamento consciente, que faz desabar tormentosamente aguaceiros tanto no mar quanto alagar caudalosamente o deserto.
    Não duvide que foi alguma pessoa que abrasileirou-se e, apaixonado por um possível governo verdadeiramente bem intencionado, de pés, mãos e cabeças determinadas e de boas intenções, elegeu Eduardo Campos- que seria o provável presidente do país em 2018- e Lula e mais, Dilma, e agora O Alexandre Kalil Pensamentos semelhantes podem Ressuscitar de corpo são e peito e mãos fortes o Che Guevara neste imenso torrão que ainda luta por ser BRASILEIRO.

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  6. A esquerda em Curitiba (no Sul) ficou é discutindo CHEIRO CORPORAL sem banho. Tentando DERRUBAR o GRECA!
    Mas Greca ganhou, mesmo assim…

    GRECA e o FEDOR
    [A Política & a Manipulação pela Linguagem,
    em Curitiba. HIPOCRISIA]:

    O Cheiro Corporal:
    É bom ver o político Greca.
    Greca, PMN, é antissentimentalista. Não hipócrita sobre FEDOR. Não se faz de vítima.

    GRECA DISSE QUE QUASE VOMITOU AO COLOCAR UM MENDIGO em seu carro. Morador-rua… ¿E daí? Mendigo não FEDE NÃO???
    ESSA de GRECA, sobre FEDOR, é medida exata de cara não HIPÓCRITA. Ouvido para diálogo, seu antissentimentalismo/humor sardônico, transformou a paisagem política de Curitiba.

    Um ANIMAL fica dias sem banho e não fede. O HUMANO já 1 dia sem banho é um FEDOR danado.

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  8. ha ha ha ali nessa foto se pussese balao de pensamento o Tarso ia dizer assim – porra como é que vou pagar a multa. E o outro ia dizer assim – porra que chato ficar no brasil saudade de paris. Tudo a ver.

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  9. O ódio destilado pela imprensa fascista deste país produziu esse resultado. Penso que é tempo da esquerda se unir e fazer uma auto e sincera reflexão. Os jovens estão aí demonstrando que como está não dá para ficar. Vamos juntos com eles ou deixar que o caldo entorne? Penso que devemos nos juntar.

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    • Isso mesmo Elizabeth. Não foi a corrupção. Não foi o desemprego. Não foi o fato de a presidanta não saber falar. Não foi nada disso. Foi a imprensa. A culpa nunca é de vocês. Por isso levaram um banho de democracia e foram escurraçados para não voltar mais mortadelas incompetentes.

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